Na luta diária para manter a glicose sob controle, cada escolha à mesa conta. Mas, ao contrário do que muitos pensam, lidar com o diabetes não significa abrir mão dos alimentos preferidos. O segredo pode estar não exatamente no que se come, mas em como se organiza a alimentação ao longo do dia. É o que explica a nutricionista Tarcila Campos, especialista em tratamento de diabetes e referência quando o assunto é alimentação prática e equilibrada para quem convive com a condição.
Planejamento alimentar faz sentido para todos, com ou sem diabetes
Para começar, Tarcila deixa claro que o cálculo dos alimentos e da quantidade de carboidratos não se restringe apenas a quem tem diabetes. Segundo ela, esse planejamento é útil até mesmo para pessoas sem diagnóstico da doença.
“Já me perguntaram: Tarcila, você já recebeu alguém que não tem diabetes, você calcula a quantidade de carboidrato dela no dia também? Calculo. Você distribui ao longo do dia com base nas refeições que ela consegue fazer? Sim.“
Mesmo para quem não enfrenta variações de glicose, entender a composição dos alimentos ajuda a manter uma rotina mais equilibrada. Por exemplo, quem está acostumado a fazer um café da manhã reforçado, com pão, fruta e leite, já começa o dia consumindo uma quantidade considerável de carboidratos.
“O que talvez eu não vá me preocupar com a pessoa que não tem diabetes: eu sei que se ela tem o hábito ali de comer pão e fruta de manhã e ainda tomar o leite, eu consigo deixar isso pra ela. Isso, às vezes, dependendo da quantidade, vai bater uns 60 gramas de carboidrato. Então, um copo de leite tem lá seus 10 gramas, mais o pão com 30, mais a fruta com 20, às vezes eu vou ter.“
O desafio do diabetes tipo 2: a importância das porções
Quando o assunto é o diabetes tipo 2, no entanto, o olhar precisa ser ainda mais atento. Especialmente para quem já faz algum tipo de monitoramento glicêmico ou apresenta exames com sinais de variações de açúcar no sangue. Nesse cenário, a estratégia de Tarcila é ajustar a distribuição das refeições, de modo que a quantidade de carboidratos não sobrecarregue o organismo de uma vez só.
“Na pessoa com diabetes tipo 2, se ela faz uma monitorização glicêmica, ou ela vem com os exames e eu entendo que em algum momento ela está tendo oscilações de hiperglicemia, a minha estratégia nutricional vai ser assim, seu José, vamos tentar dividir esse café da manhã em duas partes, para não impactar tanto?“
Assim, em vez de cortar alimentos importantes, como o pão e a fruta que muitos não abrem mão no café da manhã, a proposta é reorganizar. Uma parte fica para o início da manhã, e a outra, para um lanche algumas horas depois. Dessa forma, o corpo tem mais tempo para processar os carboidratos, e a glicemia se mantém mais estável.
Não é sobre proibir, é sobre facilitar
É natural que, ao receber o diagnóstico de diabetes, a primeira preocupação de muitas pessoas seja o medo de precisar abandonar de vez os alimentos que sempre fizeram parte da sua rotina. Mas Tarcila reforça que o foco não está na proibição, e sim na adaptação.
“Às vezes não se trata de deixar de comer. Se trata de distribuir melhor ao longo do dia para facilitar a ação daquela insulina.“
Com esse cuidado, as refeições deixam de ser um motivo de preocupação constante e passam a ser um momento de prazer e equilíbrio. Ainda mais importante: fica mais fácil manter o tratamento a longo prazo, sem o desgaste emocional de tantas restrições.
Mais qualidade de vida na prática diária com diabetes
No dia a dia, essa estratégia simples, como dividir as refeições, faz uma grande diferença. Ela evita picos de açúcar no sangue logo após comer, reduz o risco de episódios de hiperglicemia e, consequentemente, melhora a resposta do corpo à insulina. Além disso, a mudança ajuda na energia e disposição ao longo das horas. A ideia é criar uma relação mais leve com a comida, sem abrir mão do sabor, e muito menos da saúde.
“Planejar o que vamos comer não significa abrir mão do prazer da refeição. Significa cuidar do corpo e viver melhor todos os dias“, resume Tarcila.
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