Um estudo recente revelou que o diabetes aumenta o risco de doenças cardiovasculares e trombose (formação de coágulos sanguíneos que bloqueiam o fluxo nos vasos). Quando as células que revestem os vasos sanguíneos (chamadas de células endoteliais) deixam de funcionar corretamente, as plaquetas – pequenas células que ajudam na coagulação do sangue – se ligam a essas células, formando coágulos. Esse processo pode levar à trombose, um bloqueio perigoso dos vasos sanguíneos. No entanto, até agora, não se sabia ao certo quais proteínas regulam essa interação entre as plaquetas e o endotélio.
Descobertas do estudo
Os pesquisadores investigaram como uma proteína chamada dissulfeto isomerase A1 peri/epicelular (pecPDI) influencia as moléculas de adesão (que são responsáveis por “grudar” as células umas nas outras) presentes nas células endoteliais e nas plaquetas, especialmente em condições de hiperglicemia, ou seja, quando há muito açúcar no sangue, o que é comum no diabetes. Esse excesso de açúcar pode afetar diretamente a formação de coágulos e, consequentemente, causar trombose.
A relação entre níveis elevados de glicose no sangue e o risco de trombose é um tema de grande importância para a saúde cardiovascular. O médico Renato Gaspar, que conduziu uma pesquisa sobre o assunto durante seu pós-doutorado no Instituto do Coração (InCor), destaca que a glicose alta pode ser um fator de risco para eventos graves.
“A principal causa de morte na população brasileira e em vários outros países latino-americanos são eventos isquêmicos, doenças cardiovasculares, como infarto e AVC isquêmico, nos quais a trombose arterial é o evento causal precipitante. Essas doenças podem ser desencadeadas por uma série de fatores de risco, como hiperglicemia, dislipidemia e hipertensão”, explica Gaspar.
Utilizando técnicas avançadas, como a imunofluorescência (que permite visualizar estruturas nas células) e a microscopia de força atômica (que avalia a rigidez das células), o estudo mostrou que as plaquetas de pessoas saudáveis se aderiram mais às células endoteliais expostas a níveis elevados de açúcar. Descobriu-se que a proteína pecPDI nas células endoteliais, e não nas plaquetas, é a principal responsável por esse aumento na adesão.
Além disso, as células endoteliais com níveis altos de glicose no sangue mostraram alterações significativas, como mudanças na sua estrutura interna (o citoesqueleto), maior produção de peróxido de hidrogênio (H₂O₂, uma substância química que, em excesso, pode danificar as células), e pontos de adesão mais longos entre as células. Essas mudanças tornaram as células mais rígidas do que aquelas em condições normais. No entanto, ao inibir a ação da proteína PDI com medicamentos, esses efeitos foram revertidos, sugerindo que essa proteína é fundamental no processo de formação dos coágulos.
Implicações e conclusões
Os cientistas também identificaram oito proteínas que as células endoteliais produzem quando estão em um ambiente com altos níveis de glicose, e que dependem da ação da PDI. Duas dessas proteínas, LAMC1 e SLC3A2, desempenharam um papel importante na adesão das plaquetas às células endoteliais, e a remoção dessas proteínas reduziu essa ligação.
Essas descobertas, feitas por pesquisadores do Centro de Pesquisa de Processos Redox em Biomedicina, podem abrir caminho para novas estratégias de prevenção de doenças cardiovasculares e trombose. O estudo mostrou que a pecPDI das células endoteliais regula a interação entre plaquetas e o endotélio em condições de hiperglicemia, por meio de alterações nas proteínas de adesão e na estrutura das células. Compreender como o diabetes contribui para a formação de coágulos e trombose pode ajudar a desenvolver novos tratamentos para prevenir complicações cardiovasculares em pessoas com diabetes.
Fonte: Journal of Thrombosis and Haemostasis, DOI: 10.1016/j.jtha.2024.04.445.
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