Riscos do jejum intermitente para diabetes tipo 2

Alimentação

Maurílio Goeldner

Repórter e editor do portal Um Diabético. Escreve sobre saúde desde os tempos da faculdade de jornalismo. Para sugerir uma reportagem: redacao@umdiabetico.com.br

O jejum intermitente é uma estratégia alimentar que tem conquistado popularidade nos últimos anos. A ideia é prolongar o intervalo entre as refeições. Um dos tipos é o jejum intermitente diário, que prevê intervalos de até 20 horas. Mas há também opções semanais: durante cinco dias se come normalmente e nos dois dias restantes com restrição intermitente, por exemplo.

O jejum intermitente é considerado uma abordagem eficaz para a perda de peso e o controle da glicemia em pessoas com diabetes tipo 2. No entanto, a nutricionista Tarcila Campos, que também é educadora em diabetes, adverte que a qualidade nutricional da dieta deve ser priorizada. “A obesidade é uma doença crônica multifatorial, e na maioria das vezes, o tratamento nutricional consiste em melhorar o padrão nutricional como um todo, promovendo a diminuição da ingestão de calorias e a melhoria das escolhas alimentares, priorizando alimentos naturais e reduzindo o consumo de alimentos industrializados ricos em açúcares refinados e gordura. Mexer na janela de alimentação sem melhorar a qualidade nutricional muitas vezes não será eficaz, nem para a perda de peso, nem para o controle glicêmico”, lembra a especialista.

A pedagoga Kelly Almeida convive com diabetes, nunca fez jejum intermitente mas tem curiosidade sobre o tema

O tema dessa reportagem foi sugerido pela pedagoga Kelly Almeida, que é leitora do portal Um Diabético. Ela tem 50 anos e descobriu que convivia com diabetes tipo 1 aos 14 anos de idade. “Nunca tentei fazer o jejum intermitente, mas já vi pessoas com diabetes tipo 2. Acho muito arriscado para insulinodependentes por conta das hipoglicemias e fiquei curiosa porque temos como orientação médica que pessoas com diabetes não podem ficar longos períodos sem comer”, escreveu Kelly. De fato a nutricionista lembra que a hipoglicemia é um efeito colateral desse tipo de dieta e recomenda cuidados redobrados: “É importante estar atento a possíveis indicadores de que essa estratégia não está funcionando bem. Sinais de fraqueza, mal-estar e tonturas podem ser alertas de que o jejum não está indo bem”.

Além disso, entender o efeito do jejum intermitente nos níveis de glicose no sangue é fundamental. Se os níveis de açúcar no sangue se tornarem instáveis ou difíceis de controlar, isso pode ser um sinal de que o jejum não é apropriado para o paciente. “O benefício maior da prática do jejum é gerar uma alternativa à adequação alimentar tradicional, mas sem uma superioridade em relação ao tratamento nutricional convencional. Essas estratégias são desafiadoras de serem seguidas a longo prazo e, quando se trata de doenças crônicas como diabetes e obesidade, é essencial incentivar padrões nutricionais sustentáveis a longo prazo”, pondera Tarcila.

Tarcila Campos é nutricionista e educadora em diabetes

Sensibilidade à insulina

A sensibilidade à insulina é um fator crucial na gestão do diabetes tipo 2. Estudos recentes têm investigado se o jejum intermitente pode ser benéfico para melhorar a resposta do corpo à insulina. “Embora haja algumas evidências promissoras nesse sentido, a pesquisa ainda não chegou a uma conclusão definitiva sobre esse benefício”, afirma a nutricionista.

Para pessoas com diabetes tipo 2, é fundamental escolher protocolos de jejum intermitente que sejam seguros e benéficos. A abordagem mais praticada envolve a organização das refeições em uma “janela de alimentação” e um período de “jejum”.

Um exemplo comum é estabelecer uma janela de alimentação de 12 a 14 horas durante o dia, permitindo que a pessoa consuma suas refeições dentro desse período. Isso é seguido por um período de jejum de 8 a 10 horas, onde a pessoa não consome calorias. Embora o jejum intermitente possa ter seu lugar na gestão do diabetes tipo 2, é essencial enfatizar que essa abordagem deve ser adotada com a devida orientação de um profissional de saúde, especialmente um nutricionista.

Saiba aqui quais as recomendações da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica).

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