Jornalista Tom Bueno mediou o evento, que ocorreu no Dia Mundial da Obesidade; especialistas debateram o assunto e a relação entre a doença e as pessoas com diabetes
“QUEM TEM OBESIDADE E DIABETES SABE QUE A LUTA PARA MANTER O PESO E A GLICEMIA EM ORDEM É ETERNA
Em entrevista ao portal Um Diabético a psicóloga Andrea Levy fala da luta contra o preconceito e alerta: “tratar a obesidade não é sinal de ficar magro”
Um Diabético – Por que a relação entre diabetes e obesidade é tão próxima?
Andrea Levy – O diabetes agrava ainda mais questões inflamatórias já presentes na obesidade. Essa condição faz com que o corpo reduza ou pare de produzir insulina que é um hormônio fundamental para a manutenção da composição corporal, entre outras funções. Por isso, quanto mais precoce for o diagnóstico é o tratamento tanto da obesidade quanto do diabetes, mais facilmente a pessoa poderá controlar os prejuízos caudados por ambas as doenças e, fazendo um acompanhamento multidisciplinar com especialistas poderá levar uma vida praticamente normal e com qualidade.
UD – A pessoa com obesidade ainda é vista com preconceito pela sociedade. Se ela também tem diabetes isso fica pior?
AL – Em geral, a obesidade, que é uma doença visível, causa mais preconceitos. Muitas pessoas explicitam o preconceito contra a pessoa com obesidade de diversas formas: da repulsa à infantilização. Do julgamento sobre “como ela se deixou engordar tanto”, até condenar se a pessoa resolve fazer um tratamento cirúrgico ou medicamentoso. É como se fosse um beco sem saída. Se a pessoa não se trata, é considerada preguiçosa, sem força de vontade. Se parte para um tratamento médico vai escutar que “remédio faz mal, cirurgia é mutilação” e um monte de bobagens. Por essas questões eu acredito que a pessoa com obesidade desperta maior preconceito em quem não conhece a doença.
UD – Qual o pior tipo de preconceito?
AL – Uma das piores coisas que uma pessoa com obesidade oi diabetes pode sofrer é o preconceito por parte de profissionais de saúde. Se esse foi o seu caso, corra para procurar especialistas que saberão conduzir seu tratamento com ética e competência e não com julgamento. Assim você se sentirá mais seguro e a aderência ao tratamento será muito melhor. Outra questão fundamental é: faça um bom psicodiagnostico com um especialista em saúde mental que entenda profundamente de obesidade e doenças metabólicas pata que você tenha uma visão e um acompanhamento global do seu tratamento. Isso vai te deixar mais seguro e o impacto do preconceito será menor.
UD – O tratamento da obesidade ajuda a controlar o diabetes. É muito comum pessoas com obesidade dizerem: “Se eu soubesse disso teria tratado a obesidade antes”. Como podemos trabalhar essa frustração do ponto de vista psicológico?
AL – Tudo o que temos está aqui, no momento presente. Enquanto estamos vivos é possível tratar e melhorar nossas condições de saúde. Muitas vezes a pessoa não tinha as informações que tem ou teve depois do diagnóstico e é com isso que precisamos tratar. Menos culpa, mais acolhimento e condutas médicas efetivas! Tratar a obesidade é fundamental para controlar o diabetes mas também outras possíveis doenças metabólicas, articulares, psiquiátricas, cardiovasculares e melhorar a qualidade de vida. Por isso sempre insisto. Procure bons profissionais para te acompanhar!
UD – A dificuldade de controlar o peso e o diabetes pode trazer um certo “desânimo”, uma depressão?
AL – Quem tem obesidade e diabetes sabe que a luta para manter o peso e a glicemia em ordem é eterna. Mas nem por isso devemos desanimar. É fundamental trabalharmos com expectativas realistas e viáveis. Tratar a obesidade não é sinal de ficar magro mas sim de sair de um patamar de peso para manter-se alguns degraus abaixo de forma que seu corpo se torne mais saudável e consiga controlar melhor as questões metabólicas. A obesidade é uma doença crônica e complexa que mistura genética e ambiente. Quanto mais conseguirmos ganhos nos fatores modificáveis, ou seja, os ambientais, como alimentação de qualidade, atividade física, saúde mental e os tratamentos medicamentos os ou cirúrgicos quando necessários, melhor!
Mas lembre-se: metas estáveis, viáveis e expectativas possíveis para cada corpo, afinal todo tratamento deve ser individualizado!
Andrea Levy é psicóloga clínica e hospitalar;
Especialista em Obesidade e Transtornos Alimentares pelo HC-FMUSP;
Membro do conselho de Trantornos mentais da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso) 2021-2022. Autora do livro Cirurgia Bariátrica – manual de instruções para pacientes e familiares.
Presidente da ONG instituto Obesidade Brasil