A história de Débora da Silva Cerqueira, que convive com o diabetes tipo 1, moradora de Guarulhos (SP), é marcada por coragem, dor e superação. Desde 2012, quando recebeu o diagnóstico da doença, sua vida tomou um rumo inesperado.
Aos poucos, ela precisou aprender a lidar com uma condição crônica que mudaria sua rotina para sempre. Mas, naquela época, ela não imaginava que o maior desafio ainda estava por vir: a maternidade.
Um diagnóstico que transformou tudo
O diabetes chegou sem aviso. Depois de diversas idas ao hospital por infecções urinárias e exames sem respostas, foi uma consulta com a ginecologista que trouxe o veredito.
O choque inicial não deu espaço para lamentação. “Meu pai quase entrou em depressão, achando que eu não daria conta do tratamento. Mas eu só pensei: preciso me cuidar”, relembra Débora.
Naquele momento, ser mãe nem passava por sua cabeça. Sua prioridade era se adaptar à nova realidade e garantir que sua saúde estivesse sob controle. Entretanto, o destino tinha outros planos.
Uma gravidez inesperada e o diabetes
Dois anos após o diagnóstico, Débora e seu esposo foram surpreendidos com a notícia da gravidez. O que poderia ser um momento de pura alegria veio acompanhado de um desconhecimento assustador. “Eu achava que, fazendo o básico, daria tudo certo”, conta. Mas logo percebeu que uma gestante com diabetes tipo 1 enfrentava desafios muito maiores.

A falta de suporte médico adequado a fez passar por momentos de extrema dor. A menos de 20 dias do parto, Débora perdeu seu bebê, o Davi. A tragédia a abalou profundamente, mas não foi o fim de sua luta. Seguiram-se seis anos de tentativas frustradas, três abortos e um questionamento constante: valeria a pena continuar tentando?
O sonho que nunca se apagou
Houve momentos em que a desistência pareceu a opção mais sensata. Mas a vontade de ser mãe falava mais alto. Com acompanhamento médico rigoroso e uma endocrinologista em quem confiava plenamente, Débora enfrentou uma nova gestação com medo, mas também com esperança.


Cada dia era um desafio. A rotina incluía despertar de madrugada para monitorar a glicemia, escolhas alimentares cautelosas e um constante receio pelo bem-estar do bebê. Mas, dessa vez, o final foi diferente. O sonho se tornou real.
Ser mãe e viver com diabetes: um equilíbrio diário

Hoje, Débora vive a intensidade da maternidade com a mesma força que sempre teve. “Antes, eu precisava me cuidar para gerar uma vida. Agora, preciso me cuidar para estar presente na vida da minha pequena”, diz.
A convivência com o diabetes ensinou suas filhas a terem empatia e responsabilidade. “Elas sabem que, se eu passar mal, precisam agir rápido”, explica. Ainda assim, o medo de que possam desenvolver a doença a acompanha. “Esse receio sempre vai existir, mas eu sei que, mesmo com limitações, é possível viver plenamente.”
Uma mensagem de coragem para outras mulheres com diabetes
Para aquelas que têm diabetes tipo 1 e sonham em ser mães, Débora é a prova de que é possível. “Com acompanhamento adequado e dedicação, nós podemos tudo”, afirma com convicção.

Olhar para trás traz um misto de dor e realização. O caminho não foi fácil, mas cada obstáculo reforçou sua certeza: ser mãe é um ato de coragem. E Débora, como tantas mulheres que enfrentam seus desafios diários, é a essência dessa coragem.
A importância do planejamento da gravidez
A endocrinologista Denise Franco, especialista em diabetes e acompanhou a gestação de Débora, reforça a importância de um controle rigoroso da glicemia e do uso de tecnologias avançadas para garantir o bem-estar da mãe e do bebê.
Segundo a especialista, toda mulher deve se preparar antes de engravidar, mas para quem tem diabetes tipo 1, esse planejamento precisa ser ainda mais cuidadoso. “A mulher com diabetes tipo 1 tem um desafio adicional: garantir que sua glicemia esteja dentro das metas antes de iniciar a gestação. Isso inclui ter uma hemoglobina glicada abaixo de 6,5%”, explica Denise Franco.
Mulheres que atingem esse patamar antes da concepção apresentam um risco menor de complicações, chegando a um nível semelhante ao de mulheres sem diabetes. Entretanto, é necessário manter metas glicêmicas rígidas durante toda a gravidez, pois a resposta do organismo à insulina muda ao longo dos trimestres. No primeiro trimestre, há um maior risco de hipoglicemia, enquanto no segundo e terceiro, aumenta a resistência à insulina, exigindo ajustes frequentes na dosagem.
Os principais riscos e como evitá-los
Além das oscilações glicêmicas, mulheres com diabetes tipo 1 têm maior risco de desenvolver pré-eclâmpsia, parto prematuro e bebês com peso elevado ao nascer. “O monitoramento constante é essencial para evitar essas complicações e garantir que o bebê nasça saudável”, ressalta a endocrinologista.
Para garantir uma gravidez segura, Débora precisou manter um controle rigoroso da glicemia, evitando tanto hipoglicemias quanto hiperglicemias. O uso de novas terapias e tecnologias, como sensores de glicose e insulinas ultrarrápidas, foi fundamental para atingir as metas glicêmicas sem grandes oscilações.
Acompanhamento multidisciplinar faz a diferença
Outro ponto essencial foi o acompanhamento próximo entre endocrinologista e ginecologista. “A comunicação entre a equipe médica permite ajustar a necessidade de insulina a cada fase da gravidez, garantindo um melhor controle glicêmico”, destaca a especialista. Além disso, uma alimentação balanceada e ajustes frequentes na dosagem de insulina foram decisivos para a evolução segura da gestação.
Tecnologia a favor das futuras mães
Os avanços na medicina têm sido grandes aliados para mulheres com diabetes tipo 1 que desejam engravidar. O uso de sensores de glicose facilita o monitoramento contínuo, reduzindo complicações maternas e fetais. Estudos demonstram que a monitorização contínua da glicose ajuda a manter a glicemia dentro da faixa recomendada, reduzindo os riscos para o bebê.
Além disso, as insulinas ultrarrápidas possibilitam um melhor controle da glicemia pós-refeições, minimizando picos glicêmicos. Outra inovação importante são os sistemas de infusão contínua de insulina, que, quando acoplados a sensores de glicose, permitem um ajuste mais preciso das doses de insulina.
O sonho da maternidade é possível
A principal mensagem da endocrinologista para mulheres com diabetes tipo 1 que desejam engravidar é clara: é possível ter uma gravidez segura e saudável. “Planeje com antecedência, mantenha a hemoglobina glicada abaixo de 6,5% na fase pré-concepção e tenha um acompanhamento médico especializado”, recomenda Denise Franco.
O suporte de uma equipe multidisciplinar, o uso de tecnologias avançadas e a adoção de um estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada e controle emocional, são fundamentais para garantir o sucesso da gestação. “A informação e o conhecimento são grandes aliados. Muitas mulheres com diabetes tipo 1 já realizaram o sonho da maternidade e tiveram filhos saudáveis. Com planejamento e suporte adequado, esse sonho pode se tornar realidade para muitas outras”, conclui a especialista.

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