A glicose, também conhecida como açúcar no sangue, é essencial para fornecer energia às células do corpo humano. Sem ela, nenhuma atividade vital ocorreria. No entanto, quando essa substância se acumula em excesso na corrente sanguínea, o organismo dá sinais de que algo está fora do controle. Esse quadro, chamado de glicose alta ou hiperglicemia, é um dos maiores desafios enfrentados por pessoas com diabetes e também pode representar um risco silencioso para quem ainda não recebeu o diagnóstico da doença.
O que é glicose alta e como ela aparece
Toda vez que uma pessoa consome alimentos, especialmente aqueles ricos em carboidratos como pães, massas, doces e frutas, o sistema digestivo os transforma em glicose. Essa glicose passa para o sangue e serve como combustível para as células. Para que isso aconteça corretamente, o pâncreas produz a insulina, um hormônio responsável por facilitar a entrada da glicose nas células.
Quando o corpo falha nesse processo, seja pela ausência de insulina, como ocorre no diabetes tipo 1, ou pela resistência à sua ação, característica do diabetes tipo 2, a glicose se acumula no sangue. Com o tempo, esse excesso pode comprometer órgãos e sistemas, prejudicando a saúde de forma progressiva. A glicose alta, portanto, não é apenas um número no exame de sangue, mas um sinal claro de que o organismo está lutando para manter o equilíbrio.
Sintomas que merecem atenção
Em seus estágios iniciais, a glicose alta pode não provocar sintomas evidentes. Esse é um dos perigos da condição: ela evolui silenciosamente. No entanto, quando os níveis se elevam de forma significativa, o corpo começa a emitir alertas. Entre os sintomas mais comuns estão:
- sede excessiva;
- vontade frequente de urinar;
- visão embaçada.
Esses sinais surgem porque o organismo tenta eliminar o excesso de glicose por meio da urina, o que também leva à desidratação.
Além dos sinais mais frequentes, outros sintomas também merecem atenção. Entre eles, destacam-se o cansaço persistente, dores de cabeça, boca seca, formigamento nas extremidades e perda de peso inexplicável. Este último, aliás, é mais comum em casos de diabetes tipo 1. Dessa forma, quando esses quadros aparecem, especialmente em combinação, é fundamental procurar um médico. Afinal, eles podem indicar um desequilíbrio no organismo e exigir a investigação dos níveis de glicose no sangue. Quanto mais cedo o diagnóstico, maior a chance de evitar complicações.
O que causa a glicose alta
A glicose alta pode ter diversas origens, dependendo do tipo de diabetes e do estilo de vida da pessoa. Em pacientes com diabetes tipo 1, o principal motivo é a falta de insulina, muitas vezes por falha na administração ou ajuste incorreto da dose. Já no diabetes tipo 2, o corpo ainda produz insulina, mas ela não funciona como deveria, o que chamamos de resistência insulínica. Nesses casos, mesmo pequenas falhas na alimentação ou no controle da rotina podem elevar os níveis de glicose rapidamente.
Além disso, outros fatores agravam o quadro. Uma alimentação desbalanceada, rica em açúcares simples e pobre em fibras, aumenta as chances de hiperglicemia. A falta de exercícios físicos, o estresse contínuo e até mesmo doenças agudas (como gripes ou infecções) contribuem, principalmente para desregular o metabolismo da glicose. Há ainda um fator pouco conhecido: o fenômeno do alvorecer, que ocorre naturalmente por volta das 4h ou 5h da manhã. Nesse período, o corpo libera hormônios como cortisol e adrenalina, que podem elevar a glicose matinal. mesmo sem a ingestão de alimentos.
O que acontece quando a glicose alta não é tratada
Ignorar os sinais da glicose alta pode trazer consequências graves. Quando os níveis permanecem elevados por longos períodos, o risco de desenvolver complicações aumenta significativamente. Os vasos sanguíneos sofrem os maiores impactos. Com o tempo, a hiperglicemia danifica as paredes dos vasos e prejudica a circulação, levando a problemas como retinopatia (doença nos olhos), nefropatia (nos rins), neuropatia (nos nervos) e até doenças cardiovasculares.
Em casos mais extremos, especialmente em pessoas com diabetes tipo 1, a ausência de insulina pode levar à cetoacidose diabética. Nessa situação, o organismo, sem poder utilizar a glicose como fonte de energia, passa a queimar gordura em ritmo acelerado, liberando cetonas no sangue. Essas substâncias tornam o sangue ácido e podem causar desidratação grave, confusão mental, vômitos e, em casos não tratados, até coma. É uma emergência médica que exige atendimento imediato.
Como prevenir e controlar
A boa notícia é que é possível prevenir e controlar a glicose alta com mudanças simples e consistentes na rotina. O primeiro passo é manter o monitoramento frequente da glicemia, especialmente para quem já convive com o diabetes. A medição regular ajuda a identificar padrões e permite ajustes rápidos antes que os sintomas se agravem.
Além disso, a alimentação tem papel central. Optar por refeições balanceadas, com carboidratos de baixo índice glicêmico (como grãos integrais, legumes e verduras) e evitar alimentos ultraprocessados contribui para manter os níveis de glicose estáveis. O controle das porções e a combinação com proteínas e fibras são estratégias eficazes para evitar picos glicêmicos.
A prática de atividade física também deve fazer parte da rotina. Exercícios aeróbicos e de força ajudam o corpo a utilizar a glicose de forma mais eficiente, melhorando a sensibilidade à insulina. É importante lembrar que até pequenas caminhadas diárias já oferecem benefícios significativos.
Outro ponto importante é a saúde emocional. O estresse libera hormônios que elevam a glicemia, como o cortisol. Técnicas de respiração, meditação, psicoterapia e momentos de lazer contribuem para equilibrar a saúde mental e, como consequência, ajudar no controle da glicose.
Por fim, o acompanhamento médico contínuo é fundamental. Apenas um profissional pode ajustar a medicação, orientar sobre o uso correto da insulina (quando necessário) e solicitar exames para avaliar como o corpo está reagindo ao tratamento.
Não subestime sua glicose
A glicose alta não deve ser subestimada. Embora, em muitos casos, ela não cause sintomas imediatos, o acúmulo contínuo de açúcar no sangue representa um risco real e progressivo para a saúde. Identificar os sinais precocemente, adotar um estilo de vida equilibrado e manter o acompanhamento médico são atitudes que protegem o organismo e garantem qualidade de vida a longo prazo.
Mais do que combater sintomas, o cuidado com a glicose alta significa investir em bem-estar, prevenção e autonomia para quem convive com o diabetes ou está em risco de desenvolvê-lo.
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