Em outubro do ano passado, a pequena Maria Alice, com apenas 3 anos, foi internada às pressas com um quadro grave de cetoacidose diabética — complicação séria do diabetes tipo 1. O diagnóstico abalou profundamente seus pais, Dayanne Farias e o marido, que como qualquer família, foram tomados por medo, incerteza e um mar de dúvidas.
“Foi um grande susto. A gente saiu do hospital aliviado por vê-la bem, mas sem saber exatamente como seria a vida dali em diante.”, lembra Dayanne. A nova rotina exigia aprender sobre a doença, reorganizar os cuidados em casa, buscar apoio na escola e, acima de tudo, encontrar formas de ajudar a filha a entender, de forma leve, o que estava acontecendo.

No meio desse processo desafiador, surgiu uma ideia que mudaria não só a forma como Maria Alice encararia o diabetes, mas também a maneira como outras famílias poderiam enxergar a doença: nasceu o “Esquadrão Insulina”.
“Esquadrão Insulina”: um projeto feito em família, com amor e propósito
O “Esquadrão Insulina” é uma série de vídeos educativos com linguagem lúdica e personagens coloridos, criados especialmente para crianças com diabetes tipo 1.
Os vídeos são protagonizados pela própria Maria Alice, que compartilha sua rotina com a doença, mostrando que, mesmo com os desafios, é possível ter uma infância feliz, ativa e saudável.
“Queríamos que ela aprendesse sobre a condição de forma divertida, sem medo. E também que outras crianças e adultos pudessem entender melhor o que é o diabetes tipo 1.”, explica Dayanne. “Assim nasceu o canal.”
Mesmo sem qualquer experiência na produção de conteúdos para a internet — ela é técnica em meio ambiente e gestora de processos minerários, e o marido trabalha como operador de caldeira —, o casal se jogou no desafio.
Ela escreve os roteiros, cria as imagens com movimento e animações usando inteligência artificial. Ele cuida da edição dos vídeos e da montagem final. Tudo é feito em casa, com a ajuda da própria Maria Alice, que participa da escolha dos personagens e das histórias.
“Ela adora se ver nos vídeos, participar das criações. Isso a ajuda a entender melhor o que é o diabetes e a lidar com tudo com mais tranquilidade.”, conta a mãe.
Diabetes tipo 1: informar, acolher e transformar
Desde que passaram a fazer parte de grupos de apoio com outras famílias que também enfrentam a mesma realidade, os pais de Maria Alice perceberam o quanto o desconhecimento sobre o diabetes ainda é comum — dentro de casa, nas escolas, na sociedade em geral.
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“Todos nós, pais e mães de crianças com diabetes, enfrentamos as mesmas angústias. São dúvidas constantes, inseguranças, e muitas vezes a sensação de estarmos sozinhos.”, relata Dayanne. “O canal é nossa forma de dizer: estamos juntos, é possível viver bem, e ninguém precisa enfrentar isso sem informação.”

A criação dos conteúdos também surgiu como resposta a uma necessidade prática: a dificuldade que encontraram para preparar materiais informativos para a escola. “Vimos que os profissionais não sabiam como lidar com a doença, e que faltava material acessível. Então, pensamos: vamos criar nós mesmos.”
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Adaptação e aprendizado
No começo, Maria Alice chorava bastante nas aplicações de insulina. Para tornar o momento menos traumático, os pais apelaram à imaginação: passaram a chamar a insulina de “líquido mágico” e a aplicação de “o Pic da vida”. “Ela foi se adaptando. Hoje, até pede o Pic para poder tomar um sorvete”, brinca a mãe.

Com o tempo, eles também entenderam que a vida da filha não precisaria ser tão limitada quanto imaginaram no início. “Achamos que ela nunca mais poderia comer um doce. Agora sabemos que, com a contagem de carboidratos, ela pode sim ter momentos como qualquer outra criança.”
Uma super-heroína de verdade
Dayanne descreve a filha como sua verdadeira super-heroína: “Ela é incrivelmente forte e feliz. Mesmo com tão pouca idade, lida com tudo com uma leveza que nos inspira todos os dias.”
Hoje, além de cuidar da própria filha, a família se dedica a levar informação a outras pessoas — especialmente àquelas que não têm acesso a recursos como sensores de glicose ou insulina, muitas vezes em falta no SUS.

“É angustiante pensar que temos formas de oferecer mais qualidade de vida para essas crianças, mas que muitas famílias enfrentam barreiras por falta de acesso ou apoio do poder público”, desabafa.
O canal no YouTube, chamado Maria Alice DM1 – a Bonita, já reúne os vídeos do Esquadrão Insulina e outras produções que mostram a rotina da garotinha e sua jornada com o diabetes tipo 1. Com muito amor, criatividade e informação, o projeto tem tudo para crescer — e ajudar muitas outras famílias a verem a vida com mais coragem e esperança.
“O mais importante é aceitar a realidade. A gente não escolheu passar por isso, mas temos a chance de transformar essa experiência em algo positivo. Que ela saiba que pode ser o que quiser nessa vida. O diabetes não vai impedir — só vai nos dar ainda mais força para lutar”, afirma a mãe.