O acompanhamento para quem é insulino-dependente no estado de São Paulo tem ficado difícil no último mês. Uma apuração feita pelo “Um Diabético” revela que beneficiários de processos administrativos não recebem a Insulina Degludeca (Tresiba) há mais de um mês em inúmeras localidades da Grande São Paulo e do interior.
Apreensão
Em contato com mães nos últimos dias, o que se via era uma história parecida com, pelo menos, 40 famílias diferentes. Desde o começo de outubro, pessoas que convivem com diabetes, em maioria crianças, são as mais afetadas pela falta da Tresiba para o tratamento, que, segundo as mães, custa R$ 750 por mês. Uma rede de apoio foi montada. Chamada de “Mães Pâncreas”, elas mantém um grupo em aplicativo de mensagens para doação das insulinas.
Mães Pâncreas
Luana Simões da Cruz, que administra o apoio às famílias que não estão sendo assistidas, contou que começou o movimento pela doação, mas ficou desesperada pela grande demanda.
“Eu não moro em São Paulo, mas sou uma das administradoras do grupo de compra coletiva e comecei o movimento pela doação. Mas vendo a realidade, fiquei desesperada, pois a demanda está enorme!”
Marília Ferreira, mãe da pequena Giovanna, de 10 anos, está sem receber a Tresiba por parte do Governo do Estado de São Paulo desde o início do mês passado e conta como fica preocupada com o bem-estar da filha.
“Estamos muito preocupados, pois só informam que está em processo de compra desde o começo de outubro.”
O que diz a Secretaria de Saúde?
O site “Um Diabético” entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Em nota, informaram:
“A Coordenadoria de Assistência Farmacêutica (CAF) informa que a insulina tresiba (degludeca) está em processo de aquisição por meio de pregão. Os pacientes mencionados pela reportagem serão avisados assim que o item estiver disponível para dispensação.
A CAF ressalta que o item não faz parte das alternativas terapêuticas disponibilizadas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por meio de seus Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT). Sendo assim, as aquisições são realizadas exclusivamente para atender determinação judicial e/ou demandas administrativas.
A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) reforça que a compra dos medicamentos, inclusive os de demandas administrativas e judiciais, necessitam que um processo licitatório seja realizado, seguindo as disposições da Lei Federal nº 14.133/2021.”Mães reagem
Luana Simões, administradora da rede de compra coletiva, diz que o governo não é sensível no tratamento com crianças.
“Quando o SUS alega que é uma alternativa porque eles disponibilizam outros remédios grátis, é porque eles não sabem que pra criança, principalmente, a tresíba é mais segura porque evita a hipoglicemia, né? E hipoglicemia é um risco iminente para as crianças pequenas, principalmente as crianças em lua de mel. Então a hipoglicemia é grave e pode matar. Então, quando eles falam que existem outras alternativas, eles não sabem a diferença dos tipos de insulina. Isso tá bem claro.”
Thamiris Chiarastelli, mãe do Isaac, de 8 anos, também está enfrentando problemas no resgate da Tresiba e reagiu à nota da Saúde.
“A gente não tá satisfeito! […] e o pior de tudo é o prazo, né? Por mais que eles falaram que tá em falta, tá em processo de licitação, eles não deram prazo pra gente. E aí a gente fica como? Sem saber se mês que vem chega, se é daqui três meses, se é daqui quatro meses. E a gente não tem condições, né, gente, de ficar comprando, porque é muito caro, não é brincadeira não, é muito caro. É um direito deles, né? Eles que têm diabetes e se eles não têm essa insulina, eles correm até risco de vida, né?”