Uma pesquisa publicada na prestigiada revista JAMA Psychiatry revelou que medicamentos usados no controle do diabetes tipo 2 e da obesidade, como Ozempic (semaglutida) e Saxenda (liraglutida), podem reduzir significativamente o risco de internações relacionadas ao consumo excessivo de álcool. O estudo conduzido na Suécia analisou mais de 227 mil pessoas diagnosticadas com transtorno por uso de álcool (TUA), trazendo uma nova perspectiva para o tratamento dessa condição.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso nocivo do álcool é responsável por 5,1% da carga global de doenças, causando milhões de mortes todos os anos. Apesar de existirem medicamentos aprovados para tratar o alcoolismo, como Antabuse (disulfiram), Campral (acamprosato) e Revia (naltrexona), o uso dessas opções ainda é limitado. A descoberta de que medicamentos originalmente desenvolvidos para o diabetes podem atuar no controle do alcoolismo é, portanto, uma inovação importante.
A pesquisa foi conduzida utilizando registros nacionais da Suécia e incluiu 227.866 participantes, com idades entre 16 e 64 anos, acompanhados entre 2006 e 2023. O objetivo principal era avaliar o impacto do uso de medicamentos agonistas do receptor GLP-1, como Ozempic e Saxenda, na redução de internações relacionadas ao alcoolismo.
Metodologia:
- O estudo comparou períodos de uso e não uso dos medicamentos para os mesmos pacientes, utilizando um modelo estatístico que ajusta variáveis individuais.
- Além dos agonistas GLP-1, também foram avaliados medicamentos aprovados especificamente para o tratamento do alcoolismo.
Principais resultados:
- O Ozempic (semaglutida) reduziu o risco de internação por alcoolismo em 36%.
- O Saxenda (liraglutida) foi associado a uma redução de 28%.
- Ambos os medicamentos reduziram também o risco de hospitalizações por outras condições físicas.
- Não houve impacto estatisticamente significativo em tentativas de suicídio relacionadas ao uso dos medicamentos.
Como funcionam esses medicamentos?
Os agonistas GLP-1, como Ozempic e Saxenda, foram desenvolvidos para controlar o açúcar no sangue e reduzir o apetite em pessoas com diabetes ou obesidade. No entanto, estudos anteriores em animais e humanos já sugeriam que esses medicamentos também podem atuar no cérebro, influenciando o sistema de recompensa, que está ligado ao desejo por álcool e outros comportamentos compulsivos.
Próximos passos
A descoberta é promissora, mas os pesquisadores destacam que este foi um estudo observacional, que aponta associações, mas não prova causalidade. Ensaios clínicos rigorosos são necessários para confirmar se esses medicamentos podem ser usados de forma segura e eficaz no tratamento do alcoolismo.
Além disso, o estudo foi realizado com base em dados da população sueca, o que pode limitar sua aplicabilidade para outras regiões. Mesmo assim, os resultados abrem caminho para que medicamentos originalmente desenvolvidos para outras condições sejam reaproveitados para tratar o alcoolismo.
Referência:
Lähteenvuo M, et al. Repurposing Semaglutide and Liraglutide for Alcohol Use Disorder. JAMA Psychiatry. Publicado online em 13 de novembro de 2024. doi:10.1001/jamapsychiatry.2024.3599
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