Em 2009, a vida de Alexandre Paiva, da cidade de Santos em São Paulo, mudou de forma inesperada. O jovem, que havia acabado de ingressar na faculdade para cursar Engenharia de Produção, recebeu o diagnóstico de diabetes tipo 1.
Antes do diagnóstico, Alexandre levava uma vida comum, jogando futebol aos finais de semana, sem pensar muito em grandes desafios físicos, como o triatlo. No entanto, aquele seria apenas o início de uma jornada de superação que transformaria sua vida.
Hoje, com 34 anos, o coordenador de logística em uma indústria química coleciona títulos e conquistas na prática amadora esportiva de triatlo.
O despertar para o triatlo
Foi em 2016, ao relembrar os tempos em que sua mãe o levava para natação quando criança, que Alexandre se sentiu impulsionado a começar um projeto audacioso: se preparar para o seu primeiro Ironman, uma das competições mais desafiadoras do mundo, composta por natação, ciclismo e corrida. Ele acreditava que essa era a oportunidade perfeita para mostrar aos pais que, apesar do diagnóstico, ele estava saudável e poderia seguir uma vida plena e ativa.
Alexandre se lembra com emoção da reação de seus pais ao receberem a notícia de sua condição. Ele os viu chorando, sentindo-se culpados, como se tivessem falhado de alguma forma. Para ele, esse sentimento de impotência dos pais tornou-se uma força motriz. Seu maior objetivo era provar a eles que poderia não apenas viver com o diabetes, mas também prosperar.
“Um sonho de vida era recuperar essa imagem dos meus pais, dizendo para eles que poderiam ficar tranquilos, que eu estaria bem, assumiria a responsabilidade e faria boas escolhas para manter minha saúde e viver a vida ao lado deles”, conta Alexandre.
Primeiros passos no triatlo
Ele começou com pequenas provas em 2017, enfrentando as primeiras dificuldades, mas sempre se superando. “Uma prova pequena”, relembra. No ano seguinte, em 2018, já estava em uma prova olímpica, e em 2019, entrou para uma assessoria especializada com um único objetivo: completar seu primeiro Ironman em maio daquele ano.
A preparação para o Ironman foi intensa, e a rotina de treinos exigiu que Alexandre adaptasse sua vida ao controle rigoroso do diabetes.
Ele enfrentou episódios de hiperglicemia e hipoglicemia durante os treinos, o que no começo o obrigava a parar. Mas, com o tempo, ele criou uma rotina que se ajustava à nova realidade. “Antes, eu saía de casa sem nada e, quando tinha uma hipoglicemia, parava o treino. Depois, criei uma rotina de sair para correr ou pedalar sempre acompanhado de um carboidrato, com 20 ou 30 gramas, para me recuperar. Assim, não precisava parar o treino por completo”, explica o atleta.
Superando limites
O triatlo passou a ser não só uma atividade física, mas uma paixão. “Me trouxe mais energia para continuar”, comenta Alexandre, lembrando que a integração da prática esportiva com sua condição de saúde tornou-se uma grande motivação.
“Eu senti que, com a rotina já definida do triatlo, eu não acordava mais só porque iria fazer um Ironman. Eu acordava porque gostava de praticar atividade física. Então, pensei: vamos um pouco mais longe. Imaginei um Ultraman com pessoas com diabetes. E fui buscar mais informações.”
Em 2021, Alexandre enfrentou mais um grande desafio: a prova de Ultraman, uma competição ainda mais dura que o Ironman. “Foi mais um marco na minha vida”, afirma ele, que completou a prova em outubro daquele ano, mesmo com os desafios da pandemia, que adiou muitos de seus planos.
“Depois procurei um histórico, e descobri que sou a segunda pessoa do mundo com diabetes a fazer um Ultraman.” A prova Ultraman é uma das competições de triatlo mais extremas do mundo, dividida em três dias consecutivos de desafios físicos intensos.
Títulos e conquistas
Desde sua estreia no triatlo, Alexandre já completou cinco Ironmans, um Ultraman e até se candidatou ao Guinness Book em dois títulos: “Um deles é ser o Ironman com diabetes mais rápido do mundo e também há o título de pessoa com diabetes que percorreu 180 km mais rápido, que já existe, mas ainda não há ninguém com esse título no Guinness Book.”
O desafio pessoal tornou-se algo muito maior. Agora, ele busca se tornar a pessoa com diabetes mais rápida a completar a Maratona de Chicago, com o sonho de quebrar recordes e, ao mesmo tempo, ajudar outras pessoas que enfrentam o mesmo diagnóstico. “O diabetes só me fez mais forte”, diz ele com orgulho.
“O diabetes provocou diversas mudanças na minha vida que me levaram a esses títulos e competições. Se não fosse pelo diabetes, eu não teria visto meus pais da forma que ficaram e não teria o sonho de honrá-los e dar-lhes essa tranquilidade.”
Uma mensagem de inspiração
Alexandre não vê o diabetes como um obstáculo, mas sim como uma fonte de força. Sua mensagem para outros atletas e pessoas com a mesma condição é clara: “Transforme o diabetes em uma força. Use essa condição como energia para acordar todos os dias e buscar seus sonhos.”
Com sua trajetória marcada pela resiliência e superação, Alexandre inspira a todos, provando que, com determinação, é possível enfrentar qualquer desafio. Para ele, o Ironman não foi apenas uma competição, mas uma declaração de vitória — uma vitória pessoal, mas também uma conquista para seus pais, que agora podem ver que seu filho vive plenamente, saudável e feliz.
Próximos desafios
O próximo grande objetivo de Alexandre é competir na Maratona de Chicago em 2025e, quem sabe, bater o recorde como a pessoa com diabetes mais rápida do mundo. Mas, além de quebrar barreiras pessoais, ele sonha em ajudar outras pessoas a entender que viver com diabetes não significa limitar seus sonhos.
Ao contrário, pode ser a força que os impulsiona para conquistas ainda maiores.
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