Inglaterra inicia teste inédito de IA para prever risco de diabetes tipo 2 com até 13 anos de antecedência

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O Serviço Nacional de Saúde (NHS) da Inglaterra se prepara para iniciar, em 2025, um teste pioneiro de uma ferramenta de inteligência artificial (IA) que pode transformar a prevenção do diabetes tipo 2. Batizada de Aire-DM (Estimativa de Risco AI-ECG para Diabetes Mellitus), a tecnologia identifica pacientes com risco elevado de desenvolver a condição até 13 anos antes do aparecimento dos primeiros sintomas, permitindo intervenções preventivas precoces.

A inovação, que será testada inicialmente no Imperial College Healthcare NHS Trust e no Chelsea and Westminster Hospital NHS Foundation Trust, em Londres, é uma aposta do NHS para conter o avanço de um dos maiores desafios globais de saúde pública. Estima-se que mais de 500 milhões de pessoas em todo o mundo vivam com diabetes tipo 2 e que esse número alcance 1 bilhão até 2050, conforme destacou uma reportagem publicada pelo jornal britânico The Guardian.

Como funciona a ferramenta de IA?

Desenvolvida por uma equipe liderada pelos doutores Fu Siong Ng e Arunashis Sau, no Imperial College de Londres, a ferramenta analisa eletrocardiogramas (ECGs) rotineiros para detectar alterações imperceptíveis ao olho humano. Usando dados de mais de 1,2 milhão de registros hospitalares e do Biobanco do Reino Unido, a Aire-DM identifica padrões sutis nos sinais elétricos do coração que indicam alterações estruturais e funcionais relacionadas ao diabetes, muito antes dos sintomas clínicos.

Entre os sinais identificados estão pequenas mudanças no tempo, forma ou padrões das ondas elétricas do coração, além de variações nos tempos de ativação e reinicialização elétrica. Quando combinada com informações genéticas e dados clínicos, como idade e pressão arterial, a precisão da ferramenta alcança cerca de 70%, de acordo com detalhes fornecidos pelos pesquisadores ao veículo The Guardian.

Impacto na saúde pública

A principal vantagem do Aire-DM é sua acessibilidade e simplicidade. Como a análise é feita a partir de exames já amplamente utilizados, a tecnologia pode ser facilmente integrada à rotina clínica, oferecendo uma solução não invasiva e de baixo custo para prever o risco de diabetes tipo 2. “Essa ferramenta tem potencial para abrir uma nova janela de oportunidades para intervenções precoces, ajudando as pessoas a evitar a condição e suas complicações associadas”, explicou o Dr. Libor Pastika, do Imperial College, durante uma entrevista ao periódico britânico.

O diabetes tipo 2 é uma das principais causas de cegueira, insuficiência renal, ataques cardíacos, derrames e amputações de membros inferiores. Por estar frequentemente associado a fatores como obesidade, sedentarismo e histórico familiar, a identificação precoce pode permitir mudanças significativas no estilo de vida dos pacientes, reduzindo o risco de complicações.

Próximos passos e expectativas

Com financiamento da British Heart Foundation, o desenvolvimento da ferramenta representa um avanço no uso de IA para transformar a prática médica. “Estamos ansiosos para ver como essa tecnologia poderá ser incorporada ao sistema de saúde, oferecendo oportunidades de intervenções preventivas que poderiam mudar o curso de muitas vidas”, afirmou o Prof. Bryan Williams, diretor científico da fundação, em um depoimento relatado pelo The Guardian.

Se os resultados do teste forem promissores, a Aire-DM poderá ser adotada em outros hospitais da Inglaterra e, futuramente, em sistemas de saúde ao redor do mundo. A expectativa é de que essa abordagem inovadora auxilie na redução do impacto do diabetes tipo 2 globalmente, oferecendo uma ferramenta poderosa na luta contra essa epidemia crescente.

A iniciativa marca um importante passo em direção a um futuro em que a tecnologia e a medicina preventiva caminham juntas, possibilitando cuidados mais personalizados e eficientes para milhões de pessoas em risco.

Fontes: The Guardian e equipe de pesquisadores do Imperial College