Diabetes nas alturas: viajar de avião ou subir a serra muda a forma que a glicose é absorvida?

Tratamento

Maurílio Goeldner

Repórter e editor do portal Um Diabético. Escreve sobre saúde desde os tempos da faculdade de jornalismo. Para sugerir uma reportagem: redacao@umdiabetico.com.br

Sheila Pereira é professora e mãe do Lucas Gabriel, de 19 anos. Bancário e universitário o jovem foi diagnosticado aos 15 anos, e desde então, Sheila e sua família mergulharam no mundo do diabetes, aprendendo a equilibrar os desafios impostos pela doença. Uma questão intrigante surgiu nas viagens familiares: as hipoglicemias sérias que Lucas enfrenta quando passam por serras. Ela escreveu para o portal Um Diabético e sugeriu essa reportagem querendo saber mais sobre o assunto. “Viajamos de carro para Gramado neste ano e ao passar pela Serra do Rio do Rastro percebi a crise de hipoglicemia do Lucas”, contou a professora.

Lucas Gabriel, de 19 anos, os pais e a irmã: viagens em família têm preparação conjunta para prevenir crises de hipoglicemia

A curiosidade de Sheila levou-nos a explorar a relação entre altitude e glicose com o médico Fernando Valente, endocrinologista e professor da faculdade medicina do ABC. Ele ressalta que a influência da altitude na glicemia depende de diversos fatores, incluindo a exposição em curto ou longo prazo, o nível de atividade física, a presença de diabetes e a altitude específica. “Altitudes a partir de 1500 metros já podem causar mudanças significativas no corpo, como aumento da frequência cardíaca, hiper ventilação e maior sensibilidade muscular à insulina. Em altitudes mais elevadas, acima de 3500 metros, há relatos de músculos mais sensíveis à insulina, mas também uma possível diminuição na produção hepática de glicose, aumentando o risco de hipoglicemia”, explica o especialista. As altitudes de voo dos aviões comerciais variam de 9.000 a 12.000 metros, enquanto os aviões de pequeno porte voam entre 3.000 e 5.000 metros. 

O endocrinologista ainda lembra que estudos atuais indicam uma menor prevalência de obesidade e diabetes em regiões de altas altitudes. “Apesar disso, a resposta individual pode variar devido a fatores genéticos e hábitos de vida. Em geral, a relação entre altitude e glicose é complexa e individualizada. Conhecer o próprio corpo e suas reações é crucial, especialmente ao se aventurar em altitudes elevadas. Ainda que a pesquisa nesse campo esteja em andamento, compreender essas nuances pode levar a avanços terapêuticos significativos no futuro”, explica Fernando Valente.

Como sair da crise

A mãe lembra que durante as viagens, Lucas leva um kit para situações de crise. “Em nossas viagens de carro sempre levamos suco de caixinha, achocolatados, refrigerantes, sache de mel e balas. Várias formas de glicose rápida, pois a glicemia dele cai muito rápido”, conta Sheila. O endocrinologista recomenda que as pessoas com diabetes redobrem os cuidados nessas situações: “Minha recomendação é ficar mais atento às leituras glicêmicas e aos sintomas”.

O que é a hipoglicemia

A hipoglicemia é quando os níveis de açúcar no sangue caem rapidamente e podem causar sintomas como tontura, fraqueza e confusão.

O sinal de atenção para evitar a hipoglicemia é quando a glicose chega aos 70 miligramas por deciclitro. Disso, muitos já estão conscientes, felizmente, porque é a partir daí que medidas devem ser tomadas. Mas, o que a maioria das pessoas ainda não sabe é que existem variações de hipoglicemia, que oferecem diferentes níveis de risco à saúde do diabético.

No nível 1 é quando a glicose está entre 69 e 54 miligramas por decilitro a pessoa já está em uma crise de hipoglicemia. Mas, nesses casos, os sintomas são mais leves e a pessoa tem mais tempo e tranquilidade para agir. É preciso fazer contas para a reposição da glicose. No caso de um adulto, por exemplo, 15 gramas de carboidrato bastariam para completar o nível seguro de açúcar no sangue. Já para criança, o melhor é que um médico indique qual a quantidade ideal para que ela saia desse nível de hipoglicemia.

No nível 2 a situação fica mais séria, porque os sintomas também começam a ficar mais fortes. Quando a glicose fica entre 54 e 50 miligramas por deciclitro a pessoa pode sentir fortes tonturas, náusea, fome e pode até desmaiar. Para evitar que o quadro piore é necessário agir de forma mais incisiva e repor o carboidrato rapidamente.

E tem ainda o nível 3 que é definitivamente, o caso mais sério. A glicose está abaixo de 50 miligramas por decilitro e, a essa altura, a pessoa corre o risco de desmaiar ou ter convulsões. Na situação de crise de hipoglicemia grave é melhor não perder tempo e levar a pessoa diretamente ao pronto-atendimento.

Dicas para prevenir crises de hipoglicemia:
tenha sempre uma bala mole ou algum doce de rápida absorção
não fique longos períodos sem comer
não coma pouco ou deixe de se alimentar em alguma refeição
não faça atividades físicas sem se alimentar antes
não aumente a quantidade de exercícios sem consultar seu médico
evite beber álcool
sempre tenha o medidor de glicose em mão e faça o teste antes de dirigir

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