Brasil é o 1º no mundo a adotar novos critérios de diagnóstico de diabetes; entenda o porquê

Saúde Pública

Em um movimento significativo para a saúde pública, o Brasil atualizou os parâmetros de glicose no sangue para o diagnóstico precoce de diabetes. A mudança promete transformar a detecção e o tratamento da doença, proporcionando melhores resultados para os pacientes.

Segundo a endocrinologista Melanie Rodacki, que participou da elaboração dessas novas diretrizes, a principal motivação para essa atualização é prevenir complicações crônicas do diabetes, permitir um melhor controle da glicose e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

O Brasil é o primeiro país do mundo a adotar os novos critérios recomendados pela IDF – federação Internacional de diabetes.

Principais mudanças nas diretrizes do diabetes

De acordo com a especialista, uma das mudanças mais significativas nas novas diretrizes é a aceitação da glicemia medida no teste de tolerância à glicose oral com uma hora de duração. “Valores maiores ou iguais a 209 mg/dl agora são considerados como critério para diagnóstico de diabetes, enquanto valores maiores ou iguais a 155 mg/dl indicam pré-diabetes”, explicou Melanie.

Além disso, foi criado um fluxograma detalhado com uma sequência de exames recomendada para o rastreamento de diabetes tipo 2, iniciando com glicemia de jejum e/ou hemoglobina glicada. “Recomendamos que o teste de tolerância à glicose por via oral seja feito preferencialmente com uma hora de duração, em vez de duas horas. Isso agiliza o processo e mantém a precisão”, afirmou a endocrinologista.

Diabetes: expansão do rastreamento

Os parâmetros também ampliam as recomendações de rastreamento. “Passamos a recomendar o rastreamento de diabetes tipo 2 em todas as pessoas a partir dos 35 anos e naquelas abaixo dessa idade com obesidade ou sobrepeso e mais de um fator de risco para diabetes tipo 2, ou com classificação de risco alta ou muito alta na escala FINDRISC”, detalhou Melanie. Além disso, a dosagem de autoanticorpos pode ser considerada para o rastreamento de diabetes tipo 1 em familiares de primeiro grau de pessoas acometidas.

Processo de elaboração

Para chegar a essas mudanças, a equipe de especialistas realizou votações internas, simulou várias situações possíveis e analisou dezenas de artigos científicos sobre o assunto. “Fizemos um esforço colaborativo para chegar a um consenso de condutas. Essas novas diretrizes são baseadas em evidências robustas e melhores práticas internacionais”, destacou Melanie.

Segundo a endocrinologista, esses novos parâmetros permitirão um diagnóstico mais precoce da doença, maior controle da glicose e prevenção de complicações da doença. “Além disso, poderemos melhorar a detecção de casos de pré-diabetes, o que possibilitará planejar estratégias de prevenção mais efetivas e acompanhar mais de perto as pessoas em risco, evitando complicações a longo prazo”, disse Melanie.

As novas diretrizes foram influenciadas por recomendações internacionais. A Federação Internacional de Diabetes (IDF) sugeriu a utilização do teste de tolerância oral à glicose com uma hora de duração e os critérios mencionados durante o ATTD em março de 2024. O Brasil foi a primeira sociedade médica a apoiar essa decisão. A Associação Americana de Diabetes também recomenda rastreamento de diabetes tipo 2 nos mesmos critérios introduzidos agora.

Divulgação e Adaptação

De acordo com Melanie, a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) está divulgando as novas recomendações para que os profissionais de saúde e laboratórios se adaptem. “Ainda não foram feitos estudos específicos para estimar o impacto dessas mudanças, mas há muitos dados mostrando que o diagnóstico precoce e maior controle da glicemia reduzem o risco de complicações crônicas do diabetes. Precisamos investir em identificar esses casos para evitar o mau controle de glicose e consequentes complicações da doença”, ressaltou a especialista.

Expectativas futuras

Diabetes: quais as novas diretrizes para detectar a doença mais cedo
Foto: Reprodução/Internet

Melanie enfatiza que as expectativas são de uma redução no número de casos de diabetes, melhora no controle da glicose, redução de complicações da doença e melhoria na qualidade de vida dos pacientes.

Para diabetes tipo 1, recomendou-se considerar a solicitação de autoanticorpos para familiares de primeiro grau de pessoas com diabetes tipo 1, para reduzir a frequência de cetoacidose ao diagnóstico e permitir que as famílias sejam educadas sobre os sintomas e cuidados com diabetes.

“O rastreamento de diabetes tipo 2 começará com a glicose de jejum e/ou hemoglobina glicada. Se ambos os exames apresentarem critérios para diabetes, o diagnóstico é fechado. Caso apenas um dos exames esteja alterado, será necessário confirmá-lo com um novo teste. Se houver discrepância entre os resultados, a pessoa deve ser acompanhada e reavaliada após seis meses”, explicou Melanie. Se a glicose de jejum e a hemoglobina glicada estiverem normais, será avaliado o risco da pessoa, considerando fatores como obesidade, hipertensão, e histórico familiar.

Essas novas diretrizes representam um avanço significativo no tratamento do diabetes no Brasil. Com a adoção dessas medidas, espera-se uma detecção mais precoce e um controle mais eficiente da doença, beneficiando milhares de brasileiros. “Estamos confiantes de que essas mudanças vão ajudar a transformar a vida de muitos pacientes, proporcionando um diagnóstico mais rápido e um tratamento mais eficaz”, concluiu Melanie Rodacki.

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