O uso de suplementos na rotina de quem vive com diabetes é uma questão delicada e muitas vezes com dúvidas e incertezas. Entre os suplementos mais populares, a creatina se destaca por seu potencial em melhorar o desempenho físico, mas será que ela é segura para quem convive com diabetes? Em entrevista ao portal Um Diabético, o Dr. Roberto Zagury, endocrinologista esportiva, conta que essa resposta é mais complexa do que parece.
O que é a creatina e como ela funciona?
A creatina é um dos suplementos nutricionais mais utilizados no mundo. Trata-se de um composto nitrogenado não proteico, sintetizado pelo nosso organismo a partir de três aminoácidos: arginina, glicina e metionina.
O fígado e o pâncreas são os principais responsáveis por essa produção. Além disso, esse suplemento pode ser obtida por meio da alimentação, principalmente através do consumo de carnes, como a bovina, o atum e o salmão.
Em pessoas que não possuem diabetes, esse sumplemento é reconhecido por sua capacidade de aumentar a força e a potência muscular, o que, por sua vez, facilita o ganho de massa magra.
“Ela ajuda a suportar treinos mais intensos e prolongados, resultando em um aumento de massa muscular, desde que a pessoa se dedique ao treinamento”, explica o Dr. Zagury.
E a creatina para quem tem diabetes?
A questão do uso de creatina por pessoas com diabetes é mais delicada. Dr. Zagury destaca que, apesar de não haver proibição quanto ao uso do suplemento por quem convive com a doença, ainda faltam estudos robustos e específicos que confirmem os benefícios e a segurança desse uso na população diabética.
“A maioria dos estudos foi feita em pessoas sem diabetes, e precisamos de pesquisas mais direcionadas para termos certeza sobre os efeitos da creatina em quem convive com a doença”, afirma o endocrinologista.
No entanto, estudos iniciais sugerem que a creatina pode ter um impacto positivo no controle glicêmico. Isso porque o transportador que permite a entrada da creatina nas células musculares é sensível à insulina.
Em outras palavras, a insulina ajuda a “abrir a porta” para a creatina entrar na célula muscular. “Pessoas com diabetes, seja do tipo 1 ou tipo 2, têm um metabolismo da creatina alterado, e alguns estudos in vitro indicam que a creatina pode até aumentar a secreção de insulina”, explica o especialista.
As evidências científicas e mecanismos de ação
Uma meta-análise de 2022, considerada o topo da hierarquia na medicina baseada em evidências, revisou diversos estudos sobre o uso de creatina em seres humanos.
Dentre os nove estudos incluídos, cinco mostraram benefícios no controle glicêmico, enquanto quatro não apresentaram nenhuma vantagem. Importante notar que nenhum dos estudos relatou malefícios associados ao uso da creatina, seja em pessoas com ou sem diabetes.
De acordo com o Dr. Roberto Zagury, os possíveis mecanismos pelos quais a creatina pode ajudar no controle da glicose incluem:
1. Aumento da intensidade do treino: ao melhorar a desempenho física, a creatina permite treinos mais intensos, o que, por sua vez, ajuda a reduzir os níveis de glicose no sangue.
2. Aumento da produção de insulina: a creatina pode aumentar a secreção de insulina, facilitando a entrada de glicose nas células.
3. Maior transporte de glicose para as células (GLUT-4): esses receptores transportam glicose da corrente sanguínea para dentro das células musculares, onde é utilizada como fonte de energia, ajudando a reduzir os níveis de glicose no sangue.
4. Ativação da proteína que regula o açúcar (AMPK): essa proteína de sinalização intracelular é essencial para o controle da glicose, sendo ativada pela metformina, o medicamento mais utilizado no tratamento do diabetes tipo 2.
Recomendações de uso da creatina para quem tem diabetes
Embora a creatina possa ser benéfica tanto para pessoas que praticam exercícios de alta intensidade quanto para aquelas que se dedicam a atividades moderadas, Dr. Zagury alerta para a importância do bom senso. “A dosagem é a mesma para ambos os casos, mas é preciso refletir se o uso do suplemento é realmente necessário, especialmente para quem treina com pouca intensidade”, recomenda.
Sobre a segurança renal, uma preocupação comum entre pacientes que tem a doença, o especialista tranquiliza: “Não há evidências de que a creatina cause problemas renais em pessoas saudáveis. No entanto, para quem já tem disfunção renal, especialmente pessoas com diabetes com clearance de creatinina abaixo de 60, é prudente evitar o uso do suplemento, não porque ele seja prejudicial, mas por falta de estudos específicos nessa população”.
Creatina e os medicamentos para diabetes: existe algum risco?
Outro ponto relevante abordado por Dr. Zagury é a ausência de interações conhecidas entre a creatina e os medicamentos usados no tratamento do diabetes, como a metformina.
“Há um estudo pequeno, mas interessante, que comparou diretamente os efeitos glicêmicos da creatina e da metformina, mostrando resultados semelhantes em termos de controle da glicose”, comenta. Contudo, ele enfatiza que isso não significa que a creatina substitua a metformina no tratamento do diabetes.
Quanto ao melhor momento para tomar creatina, o endocrinologista sugere o período pós-treino, quando o músculo está mais receptivo ao suplemento. Ele ressalta que o mais importante é a regularidade no uso diário, independentemente do horário.
A creatina é um suplemento promissor, mas ainda carente de estudos conclusivos sobre seus efeitos em pessoas com diabetes. Para quem vive com a doença, o uso da creatina deve ser feito com cautela e sempre sob orientação médica. “É fundamental que os quem tem a doença não substitua tratamentos consagrados por suplementos sem a devida orientação”, finaliza Dr. Roberto Zagury.
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Parabéns, muito esclarecedor! Agradeço pelo bom conteúdo, estava exatamente me perguntando se eu poderia usar este suplemento em minhas atividades físicas. Muito obrigado, vou conversar com minha especialista sobre este tema para ver qual o mais recomendado para o meu dia a dia.
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