Ansiedade pode afetar o controle do diabetes?

Tratamento

Aline Feitosa

Repórter do portal Um Diabético. Adora fazer entrevistas e acredita que a apuração jornalística é a melhor vacina contra as notícias falsas. redacao@umdiabetico.com.br

Conviver com diabetes requer mudança no estilo de vida e um controle exigente. Gerenciar os níveis de açúcar no sangue e garantir que eles permaneçam dentro de uma faixa saudável é algo desafiador. Além disso, outros aspectos relacionados à doença são os emocionais e os psicológicos. A ansiedade em níveis elevados está associada à diminuição da qualidade de vida e na pessoa com diabetes pode ocorrer essa sensação principalmente por conta da necessidade constante de se estar em estado de vigilância diante das demandas que o diabetes exige. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, pessoas com diabetes têm 20% mais probabilidade de desenvolverem Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), e apresentam sintomas de ansiedade mais elevados do que a população geral. 

O que é ansiedade?

A palavra ansiedade foi a mais procurada durante a pandemia. E de fato, ela pode afetar vários aspectos da vida das pessoas com diabetes. Ansiedade é uma resposta natural e adaptativa do corpo humano a situações de perigo, ou seja, o corpo entende que está em estado de ameaça, apreensão em relação ao futuro ou a sensações desconhecidas. Em níveis normais, a ansiedade é saudável pois ajuda a ficar alerta e tomar medidas para lidar com os desafios, o que se torna preocupante é o excesso. Quando o estado de ansiedade persiste por um período prolongado e interferindo na qualidade de vida, nas tarefas do dia a dia, e no conforto emocional, deixa de ser natural e passa a ser motivo de alerta. 

Quando o corpo está em nível de estresse, ele produz hormônios como forma de defesa desse perigo. Esses hormônios impactam no controle da glicemia, como por exemplo o cortisol e adrenalina, o que contribui para que a glicose fique elevada. Esses são sinais que a pessoa com diabetes consegue identificar ao fazer o monitoramento da glicose. “Quando se está ansioso é preciso ter energia para trabalhar a ansiedade. Nosso organismo lança mão dos recursos que tem para aumentar essa energia, entre eles estão os hormônios que elevam o açúcar no sangue, como o cortisol. O pâncreas tem que fabricar mais insulina por conta desse açúcar que vai aumentar por causa da elevação desses hormônios, com isso temos mais insulina”, explica a endocrinologista Denise Franco.

Lucas Tosta: “Ainda é difícil, mas sinto que posso conseguir” / Foto: Acervo Pessoal

Essa é a realidade do agente de soluções Lucas Tosta, de 35 anos de idade. Ele tem diabetes tipo 1 e considera que a ansiedade deixa difícil sua relação com o diabetes. “Por muitos anos vivi como se não tivesse diabetes, mesmo usando insulina. Toda vez que começava uma dieta fazendo ponta de dedo parecia que nunca dava resultado, nunca conseguia manter os níveis aceitáveis e com isso minha ansiedade ia nas alturas”, explica.

A universidade de Yale realizou uma pesquisa em 2022, em que os participantes disseram que o diabetes e a ansiedade são praticamente primos. Os padrões de pensamento e medos que alimentam a ansiedade são associados ao controle do diabetes. Ter uma doença crônica e ter que tomar decisões constantes criam oscilações na glicemia, que é uma receita perfeita para ansiedade. “Durante a pandemia entrei na terapia e isso me ajudou a mudar a chave. Mas, às vezes a revolta ainda bate, mesmo sendo diabético há mais de 20 anos, me pergunto o que fiz para merecer isso”, desabafa Lucas.

O que fazer em situações de ansiedade?

Em situações de ansiedade nas pessoas com diabetes tipo 1 é preciso fazer o ajuste da medicação e da dosagem da insulina. No caso do diabetes tipo 2, em que é preciso tomar medicação para ajudar a ação da insulina, o paciente tem que mudar a dosagem ou até mesmo a quantidade da medicação. Certas práticas no estilo de vida também podem ser benéficas para as pessoas com diabetes, como exercitar-se regularmente, estabelecer e manter a regularidade do sono, reduzir cafeína, dedicar tempo para se conectar com a família e amigos, práticas de saúde complementares como ioga e meditação. Pessoas com diabetes em estado de ansiedade costumam agir no automático, começam a comer sem prestar atenção, tomam decisões sem pensar, o que mostra a importância do pilar emocional e o quanto deve se manter atento. “Recentemente fiquei amigo de um rapaz e um dia conversando descobri que ele também convive com diabetes. Conversamos muito, ele me ajudou a perceber que é possível controlar e ter uma vida normal de uma pessoa que trabalha, estuda”, ressalta o agente de soluções. 

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