Maurílio Goeldner
Repórter e editor do portal Um Diabético. Escreve sobre saúde desde os tempos da faculdade de jornalismo. Para sugerir uma reportagem: redacao@umdiabetico.com.br
O relato veio de uma leitora do portal Um Diabético. Helen Natália escreveu uma mensagem dizendo que convive com diabetes tipo 1 há 24 anos e que percebe mudanças significativas no humor quando está numa crise de hiperglicemia: “sempre que minha glicemia tá alta eu fico mais estressada, sem paciência alguma, muito nervosa”. Ela quer saber mais do assunto. “Gostaria de saber se tem relação com o diabetes ou se é somente coisa da minha cabeça?”, pergunta Helen.
Convidamos dois especialistas, um neurologista e uma psicóloga, para esclarecer a dúvida. O médico Fabiano Moulin, da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), explica que o cérebro é sensível à disponibilidade de glicose, sendo este um dos principais combustíveis para suas funções. Quando os níveis de glicose no sangue oscilam, pode ocorrer uma desregulação nas funções cerebrais, afetando áreas relacionadas ao controle emocional e bem-estar. “Nesse cenário, a hipoglicemia (baixa glicose) pode levar a sintomas como irritabilidade, nervosismo e mau humor, enquanto a hiperglicemia (alta glicose) está associada a fadiga, letargia e até mesmo depressão”, lembra ele.
A psicóloga Elaine Rosa lembra que o corpo e mente estão conectados. “Diante de uma glicemia alta a reação corporal fadiga, sede excessiva, visão turva, entre outros sintomas, tendem a gerar emoções como tristeza, raiva, que podem ser entendidas como respostas naturais e compreensíveis diante de um desafio para a saúde”, afirma a especialista.
O que acontece no cérebro
A influência da glicemia nos neurotransmissores, como a serotonina, também desempenha um papel crucial no estado emocional. Variações nos níveis de glicose podem comprometer a produção e a regulação desses neurotransmissores, contribuindo para oscilações de humor em pessoas com diabetes. Assim, a manutenção de níveis glicêmicos estáveis torna-se não apenas vital para a gestão eficaz da condição diabética, mas também para promover um equilíbrio emocional e prevenir episódios de mau humor associados às flutuações glicêmicas.
Dicas para amenizar os sintomas
Os especialistas lembram que o controle da glicemia é o melhor caminho para prevenir crises. Outra dica é se preparar para as possíveis reações. “É importante aceitar estas emoções como respostas naturais diante as complexidades emocionais que são associadas ao gerenciamento do diabetes e desenvolver ações que promovam o bem-estar como ajuste na alimentação entre outras praticas saudáveis”, afirma Elaine Rosa.
O endocrinologista ressalta que “hábitos de vida ruins levam a mais flutuação da glicemia, que leva a pior qualidade de vida, que leva a maior flutuação e essa bola de neve acaba tendo uma gravidade aumentada das complicações do diabetes, com problemas neurológicos e psiquiátricos”, conclui.
Confira três dicas para amenizar os sintomas:
- Respire profundamente e pratique o relaxamento: A respiração profunda e técnicas de relaxamento podem ser eficazes para acalmar o sistema nervoso. Dedique alguns minutos para inspirar profundamente pelo nariz, segurar por alguns segundos e expirar lentamente pela boca. Repita esse processo várias vezes. Além disso, técnicas de relaxamento, como a meditação podem ajudar a diminuir a ansiedade e promover a calma.
- Avalie a situação e identifique gatilhos: Reflita sobre o que desencadeou a crise de hiperglicemia e, consequentemente, o nervosismo. Identificar gatilhos específicos pode ajudar a prevenir futuras ocorrências. Se possível, discuta a situação com um profissional de saúde, que pode oferecer insights sobre ajustes no plano de tratamento ou sugerir estratégias para lidar com os desafios específicos relacionados ao diabetes.
- Procure apoio e comunique-se: Compartilhar suas emoções com amigos, familiares ou um profissional de saúde pode ser benéfico. O apoio social é crucial para enfrentar as dificuldades emocionais relacionadas ao diabetes. Falar sobre suas preocupações e sentimentos pode proporcionar uma sensação de alívio e possibilitar a obtenção de conselhos úteis.
Assim como a Helen Natália, tenho observado ao longo dos meus anos de diabetes tipo 1 (28 anos) que quando a glicemia eventualmente acima 250, sempre fico de mau humor e irritado. Interessante é que os médicos que comentaram sobre o assunto não confirmaram expressamente sobre isso. Ao contrário, chagaram até a dizer que isso seria sintoma de hipoglicemia e não de hiperglicemia.
Helen, eu também fico mau humorado e irritado com hiperglicemia (acima de 250).