Maurílio Goeldner
Repórter e editor do portal Um Diabético. Escreve sobre saúde desde os tempos da faculdade de jornalismo. Para sugerir uma reportagem: redacao@umdiabetico.com.br
Fabiana Dias acaba de ser contratada como auxiliar administrativa. Ela tem 31 anos de idade e convive com diabetes tipo 1. Dessa vez optou por revelar que é insulinodependente apenas no exame admissional, depois de ser aprovada na entrevista. “Uma vez passei em todas as etapas da seleção e quando falei sobre ter diabetes, o dono da empresa barrou minha contratação”, lamenta ela. Dessa vez ela só falou sobre a condição de saúde com a médica do trabalho.
A realidade da auxiliar administrativa é comum na vida profissional de muitas pessoas com diabetes. Consultamos uma especialista em recursos humanos sobre a postura de empresas e de profissionais que convivem com diabetes. Miriam Rodrigues, professora do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, pontua que durante a seleção a candidata não mentiu. “Se não foi perguntado, não houve uma mentira. E se não foi dito meu entendimento é que não há uma interferência do diabetes na atividade laboral. Agora é claro, se a gente tem uma situação diferente disso, uma situação onde há uma interferência na atividade profissional, aí seria, neste caso, uma informação relevante para a empresa. Nesse caso seria indicado que o profissional tivesse falado, independentemente da pergunta ter sido feita”, afirma a especialista.
Dilema
A questão pode também gerar um conflito interno: devo dizer que tenho diabetes e correr o risco de ficar desempregada ou omitir essa informação e contar só depois da aprovação? Miriam entende que é um dilema: “comunicar agora vai implicar no risco de uma perda de credibilidade, algo que pode afetar a imagem desse profissional na empresa. Porém, não falar também, pode gerar esse peso na consciência. Então, entre a verdade e a omissão, essa pessoa ela vai precisar fazer uma opção. Acho que é grande aprendizado para esse profissional de como ele irá se posicionar em situações futuras desta mesma natureza onde ele poderá optar”.
A professora analisa as vantagens de falar a verdade durante o processo. “Da mesma forma que o profissional tem a expectativa de que ele ouvirá a verdade da empresa, o contrário também precisa ocorrer. Então sim, a gente indica que sempre a verdade seja falada nas entrevistas de emprego para que o problema a respeito do qual a gente tem preocupação agora não se torne alguma coisa muito maior no futuro”, pontua Miriam.
Fabiana acredita que escolheu o momento certo de contar. “A médica do exame admissional sabe que o diabetes não impede que eu faça meu trabalho, então me senti mais segura”. Ela está bastante animada pra começar no novo emprego no dia 2 de janeiro.