Perda de sensibilidade nos dedos: como prevenir e tratar a Neuropatia Diabética

Tratamento

Aline Feitosa

Repórter do portal Um Diabético. Adora fazer entrevistas e acredita que a apuração jornalística é a melhor vacina contra as notícias falsas. redacao@umdiabetico.com.br

A preocupação de uma de nossas leitoras com a neuropatia diabética motivou essa reportagem. Márcia de Oliveira Carvalho é do Rio de Janeiro. Ela entrou em contato com a nossa redação sugerindo que falássemos sobre o tema: “Gostaria de saber mais sobre neuropatia diabética e se tem algum remédio eficaz”. Você também pode enviar uma sugestão de reportagem clicando aqui.

A neuropatia diabética é uma complicação da diabetes que se caracteriza pela progressiva degeneração dos nervos, resultando na redução da sensibilidade ou no surgimento de dor em diversas regiões do corpo, sendo mais frequentemente observada nas extremidades, como mãos ou pés. O desenvolvimento da neuropatia diabética costuma ocorrer de forma gradual e pode manifestar sintomas como dor, formigamento, sensação de queimação ou diminuição da sensibilidade. Embora não haja cura, é possível gerenciar a neuropatia através do tratamento adequado do diabetes e da utilização de medicamentos, como analgésicos e antidepressivos. Essa realidade é conhecida de perto por Eloísa Malieri, advogada e influenciadora digital. Ela foi diagnosticada com diabetes tipo 1 aos 11 anos de idade. Um dia ao fazer uma trilha com uma amiga, a advogada sentiu algo estranho com o chinelo. “Não conseguia prender o chinelo nos pés, tirei, e quando cheguei na casa da minha amiga, a sola do pé estava toda descascada”, diz.

Eloísa, criadora do perfil Elo&Bete: “transformei meu diagnóstico em um novo propósito de vida”

A situação já era um indicativo que as coisas não iam bem, a coloração da pele, a perda de pêlos, já mostravam que a neuropatia estava instalada. No entanto, a advogada só foi descobrir quando estava grávida da primeira filha: “apareceu uma bolha no dedinho do pé esquerdo, fiz um curativo, só que descobri que a ferida do lado de fora por menor que seja, já é um sinal que as coisas não vão bem”. Ferida em pessoas com diabetes, são como ma úlcera que vem de dentro para fora. “Quando percebi a ferida se transformou em um rombo no pé”, ressalta. Eloísa acredita que também teve neglicência de sua parte, e por isso, destaca a importância da conscientização dos pacientes. Ela criou a página “Elo&Bete” e ajuda pessoas com diabetes compartilhando sua rotina de uma forma leve e saudável: “Transformei o meu diagnóstico e as complicações do diabetes em um propósito de vida”.

Por que  acontece?

O médico Will Fernandes: O controle da glicemia é importante na prevenção da neuropatia diabética

O cirurgião vascular Wiil Fernandes explica que dois fatores contribuem para o aparecimento da neuropatia no paciente com diabetes. “A hiperglicemia crônica induz à conversão de glicose a sorbitol. Esta conversão acarreta uma perda da condução elétrica pelos neurônios, consequentemente gerando danos aos nervos sensitivos e motores de forma simétrica em ambos os membros inferiores, por exemplo”, diz o especialista. A glicose em doses elevadas é uma das possíveis causas da neuropatia, ao provocar uma alteração metabólica e até a degeneração do nervo. “Há impacto danoso aos microvasos do corpo, ocasionado pela hiperglicemia no sangue, que dificulta o transporte e entrega de oxigênio às fibras nervosas”, comenta ele.

Como acontece 

Imagine seu corpo como uma grande cidade, com ruas e avenidas interconectadas, onde carros elétricos são os nervos, transmitindo informações importantes para diferentes partes. Agora, nessa cidade, há uma fábrica importante chamada Pâncreas, que regula o fornecimento de energia para os carros, mantendo a cidade em movimento. O diabetes, entretanto, é como um operário desatento na fábrica. Ele deixa de controlar bem a energia, e alguns carros elétricos (nervos) começam a falhar. Isso é a neuropatia diabética começando a acontecer. Os carros elétricos (nervos) não recebem a energia de que precisam, e as luzes começam a piscar, sinalizando problemas. Isso se traduz em formigamento, pontadas e dor em diferentes partes do corpo, especialmente nas mãos e nos pés. Imagine agora que a cidade está ficando confusa, com semáforos que não funcionam direito e estradas escuras. Essa é a sensação que alguém com neuropatia diabética pode experimentar – uma comunicação confusa entre o cérebro e as extremidades. Mas aqui está a parte importante: podemos ajudar a consertar essas luzes piscando! Com o tratamento certo, podemos ajudar o operário (o controle da diabetes) a melhorar seu trabalho, para que a energia flua suavemente e os nervos voltem a funcionar adequadamente. Entender como a neuropatia diabética acontece é como entender a dinâmica de uma cidade. É uma questão de manter a energia fluindo corretamente e garantir que todos os “carros elétricos” possam percorrer suas rotas de forma eficiente. E assim, podemos ajudar a iluminar essa cidade, trazendo conforto e bem-estar para aqueles que vivem nela.

Como identificar 

De acordo com o estudo divulgado na Revista Nature, aproximadamente 26% das pessoas diagnosticadas com diabetes tipo 2 já manifestam neuropatia diabética. Não há diferença em relação à condição neuropática entre diabetes tipo 1 e tipo 2.  Os sinais e sintomas da neuropatia diabética podem variar dependendo do tipo de nervo afetado. Na forma mais frequente, podem incluir: sensação de dor, sensação de queimação, dormência e/ou formigamento nos dedos dos pés, pés e pernas. “Geralmente, a doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) ocorre simultaneamente à neuropatia diabética, portanto o diagnóstico deve ser iniciado com uma avaliação das artérias dos membros inferiores. É comum estes pacientes apresentarem pele fina, seca e atrófica e uma diminuição dos pêlos” explica Will Fernandes. 

Principal causa de amputação?

A principal causa de amputações em pessoas com diabetes é a doença vascular periférica, que afeta a circulação sanguínea nas pernas e nos pés: “os pés dos diabéticos constituem segmentos particularmente vulneráveis, porque a neuropatia periférica associada à arteriopatia favorece o aparecimento de feridas, calosidades, úlceras que frequentemente infeccionam, colocando em risco a viabilidade do membro e a própria vida do paciente. Essa tríade de manifestações caracteriza o que popularmente se conhece como ‘pé diabético’. Este quadro acomete 1 a cada 5 pacientes diabéticos com diagnóstico de diabetes há 18 anos ou mais”, esclarece o médico.

A neuropatia diabética pode, no entanto, contribuir para o risco de amputações em pessoas com diabetes. Se não forem tratadas precocemente, essas complicações podem evoluir para infecções graves e, em alguns casos, exigir amputação. “O pé diabético, sem sombra de dúvidas, constitui um grande problema de saúde pública, sendo sua assistência dispendiosa tanto para pacientes quanto para políticas de saúde pública”, diz.

Qual orientação para quem for diagnosticado?

A prevenção da neuropatia diabética é geralmente possível por meio de um controle rigoroso dos níveis de glicose no sangue. “Ainda não há tratamento que reverta a neuropatia diabética. É muito importante que se identifiquem pacientes pré-diabéticos com neuropatia incipiente, pois intervenções podem ser efetivas nessa população, portanto, dado o diagnóstico, um médico vascular, neurologista ou endocrinologista devem ser procurados para seguimento desse paciente”, explica o especialista.

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