Maurílio Goeldner
Repórter e editor do portal Um Diabético. Escreve sobre saúde desde os tempos da faculdade de jornalismo. Para sugerir uma reportagem: redacao@umdiabetico.com.br
Foi numa consulta do filho que a empresária Christiane Moura levou um susto. Ela aproveitou que o menino iria colocar aparelho nos dentes e pediu para o dentista dar uma olhadinha também na boca dela. A avaliação não foi tão rápida. Ela foi encaminhada a um periodontista que confirmou a suspeita: “Eles descobriram através de exames que o dente molar superior direito tava tão solto que tive que fazer a extração… foi um baque! Fiquei bem revoltada”, lembra Christiane, hoje com 51 anos de idade. Ela mora em Formiga, Minas Gerais, e descobriu o diabetes tipo 1 em 2010.
O que Christiane tinha era perda óssea. “Eu consultei especialistas da área e eles me explicaram dessa complicação do diabetes: a microvascularização fica prejudicada na área dos dentes”, lembra a empresária que conta também que antes desse diagnóstico nunca tinha percebido nada de errado com os dentes: “E olha que eu ia ao dentista e fazia limpeza pelo menos uma vez por ano”.
A dentista Bruna Ricci, que é membro do departamento de saúde bucal da Sociedade Brasileira de Diabetes, explica que as pessoas com diabetes tem mais chance de desenvolverem doenças periodontais. “Infelizmente é uma realidade comum entre as pessoas com diabetes e existe uma dificuldade de diagnóstico dentro do próprio consultório odontológico. Há casos de pacientes que frequentam o dentista, que fazem a limpeza, mas que não são informados sobre o tratamento da periodontite. A doença vai correndo e aí quando se dá o diagnóstico o paciente já está perdendo o dente”, alerta.
A periodontite é uma condição odontológica séria que pode levar à perda óssea e, em casos avançados, à perda dos dentes. Essa doença periodontal é uma forma avançada da gengivite, que é a inflamação das gengivas devido à presença de placa bacteriana.
Foi a própria empresária mineira que sugeriu o tema dessa reportagem ao Portal Um Diabético. “Conversando com conhecidos e amigos que convive com diabetes, constatei que eles também não sabiam desse risco! Por isso, achei importante propor esse assunto. Nenhum médico me alertou sobre isso”, desabafa Christiane que quatro ano atrás teve que extrair um segundo dente. Para sugerir um tema de reportagem clique aqui.
Para a dentista da SBD há uma mudança de consciência por parte dos profissionais de saúde que acompanham as pessoas com o diabetes. “Hoje os médicos estão mais atentos e alertam. As alterações de resposta imunológica e inflamatórias são os principais fatores que levam a maior chance de progressão da doença em pacientes fora da meta glicêmica”, afirma Bruna, que sugere também que pacientes com diabetes devem visitar seu dentista de preferência a cada 4 meses. “Existe uma relação bidirecional das doenças. As alterações bucais levam a dificuldade de atingir a meta glicêmica, bem como o diabetes leva a alteração da saúde bucal”, explica.
Para a dentista é importante observar também a presença de sangramento gengival durante a escovação, à mastigação ou espontaneamente. Note também se as gengivas estão vermelhas ou inchadas, se há dor espontânea ou à mastigação, se existe mau hálito ou gosto ruim na boca e se os dentes tem mobilidade ou raízes expostas. “O melhor é fazer a prevenção com profilaxias regulares, raspagens e com adequados hábitos de higienização. É possível prevenir, diminuir ou estacionar a progressão da doença com cuidados adequados”, conclui a especialista.