No mês do Dia Mundial do Câncer um alerta sobre a prevalência de câncer entre os diabéticos
Maurílio Goeldner, da Redação Um Diabético
Portadores de diabetes tipo dois tem uma propensão maior a adquirir certos tipos de câncer. Estudos recentes apontam que há um real aumento na incidência de câncer de pâncreas, hepatobiliar e endométrio na população DM 2. E ainda um leve aumento na incidência de câncer de cólon e reto, mama e bexiga.
O oncologista Daniel Garcia do A.C.Camargo afirma que aproximadamente 1 em cada 5 pacientes com câncer tem diabetes. “Uma revisão do tipo “guarda-chuva”, que analisou 27 estudos de metanálise, concluiu que o diabetes tipo 2 aumenta em 10% o risco relativo de desenvolver câncer. Além disso, vários novos tratamentos contra o câncer ou o uso de corticoides podem levar ao diabetes ou agravar o diabetes preexistente”, alerta ele.
Muitas pesquisas tentam decifrar essa relação. Ariel Kann, que é oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, acompanha os estudos mais recentes. “O motivo para pessoas com diabetes desenvolverem com maior facilidade alguns tipos de câncer ainda não está claro. Há dúvidas, inclusive, se isto decorre como efeito direto da hiperglicemia (alta taxa de glicose na corrente sanguínea) ou devido à resistência à insulina e consequente hiperinsulinemia (elevação da taxa de insulina no sangue). Uma hipótese é que muitas células malignas expressam receptores de IGF-1 (insulin-like growth factor 1) e o IGF-1, assim como a insulina, estão aumentados em pacientes diabéticos do tipo 2, sobretudo em obesos”, pondera o médico.
Os especialistas também alertam para fatores que podem confundir esse diagnóstico, pois muitos dos fatores de risco para câncer e diabetes são compartilhados. Por exemplo: obesidade, redução da atividade física, dieta rica em gordura e pobre em fibras.
Diabetes tipo 1 e câncer
Pesquisadores também avaliam a relação de diferentes tipos de câncer com o diabetes tipo 1. Mas médico oncologista lembra que há poucos estudos que fazem essa associação. “O diabetes tipo 1 está relacionado à diminuição da produção de insulina pelas células beta pancreáticas e não está associado ao sobrepeso ou obesidade. Atualmente, baseado em estudos, não podemos dizer que o diabetes do tipo 1 leva a um aumento do risco de câncer”, afirma Ariel Kann.
Diabetes é uma doença metabólica caracterizada por níveis elevados de glicose (açúcar) no sangue, que pode levar ao longo do tempo a danos em órgãos como o coração, vasos sanguíneos, olhos, rins e nervos. O mais comum é o diabetes tipo 2, geralmente em adultos, que ocorre quando o corpo se torna resistente à insulina ou não produz insulina suficiente.
Controle glicêmico
Durante o tratamento oncológico um ponto merece atenção: é que o controle glicêmico pode ser comprometido.
Inicialmente, pelo ganho ou pela perda de peso que pode ocorrer ao longo da doença e do seu tratamento.
Segundo Ariel Kann “uma série de medicações, principalmente os glicocorticoides (utilizados junto à quimioterapia para prevenir náuseas e alergia) costumam elevar os níveis de glicose. O stress, infecções e cirurgias também podem descompensar o controle glicêmico. Às vezes, algo simples como suspender o uso de metformina previamente a um exame de tomografia com contraste também pode comprometer o controle”, afirma o médico.
Tratamento
Os oncologistas explicam como é feito o tratamento de um paciente com diabetes que também é diagnosticado com câncer.
Nas últimas décadas, o cenário de tratamento de vários tipos de câncer mudou com o surgimento das hormonioterapias, imunoterapias e terapias-alvo. Eles aumentam as taxas de cura, sobrevida e qualidade de vida dos pacientes, porém podem causar hiperglicemia.
Daniel Garcia, do A.C.Camargo, acrescenta que a quimioterapia convencional tem efeito direto mínimo ou nenhum sobre a hiperglicemia, exceto quando utilizada juntamente com corticoides em doses mais elevadas. “As terapias que bloqueiam os hormônios – chamadas de hormonioterapias – revolucionaram o tratamento do câncer de mama e próstata. No entanto, também estão associadas ao aumento da resistência à insulina e desenvolvimento de diabetes”, afirma.
Alguns tipos de imunoterapia ativam a imunidade e aumentam a resposta imune contra células malignas. Mas, ao mesmo tempo, podem causar fenômenos autoimunes como hipotireoidismo, hipertireoidismo, insuficiência adrenal e hipofisite. Raramente estão associados ao desenvolvimento de diabetes autoimune, reduzindo a produção de insulina das células β do pâncreas e simulando um diabetes tipo 1.
Ariel Kann, do Hospital Oswaldo Cruz, dá detalhes: “Há uma série de peculiaridades. Tanto na escolha das drogas (quimioterapia) quanto no manejo dos efeitos colaterais. A principal orientação quanto à alimentação é manter a regularidade, fracionar a dieta ao longo do dia e, junto à nutricionista, elaborar um cardápio baseado nas suas necessidades”, diz Ariel Kann. Ele ainda alerta que tanto para o diabetes quanto para o tratamento oncológico a atividade física é extremamente importante: “Muitas vezes o endocrinologista precisa alterar as doses ou medicações para ajustes glicêmicos e esta interação entre as equipes é fundamental. A metformina, por exemplo, é uma droga antiga e muito útil no tratamento do diabetes que pode ser útil também no tratamento do câncer”.
Dia Mundial do Câncer
O Dia Mundial do Câncer ocorre no dia 4 de fevereiro. Neste ano o INCA divulgou uma estimativa preocupante: são esperados 704 mil casos novos de câncer no Brasil para cada ano do triênio 2023-2025, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência. As informações são da publicação Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil. Leia mais sobre o estudo aqui.
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