Pacientes com diabetes esperam mais de um ano por consulta oftalmológica no SUS em SP

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A espera por consultas e exames na rede pública de São Paulo tem se tornado um verdadeiro calvário para milhares de pacientes com diabetes e obesidade. Levantamento realizado pelo Vozes do Advocacy, organização que reúne 27 entidades voltadas à causa, revelou que, em algumas regiões do estado, o tempo de espera para uma consulta com oftalmologista chega a 473 dias. Apesar da gravidade da situação, a ONG denuncia que, há meses, tenta uma reunião com o governador Tarcísio de Freitas, sem sucesso.

Os dados obtidos via Lei de Acesso à Informação mostram que o cenário é alarmante. Na Grande São Paulo, 14.513 pessoas aguardam, em média, 278 dias por uma consulta oftalmológica. Na região de Araçatuba, a fila chega a 7.322 pacientes, que esperam 473 dias por atendimento especializado. Em Campinas, são mais de 18 mil pessoas esperando 227 dias. A espera por exames é igualmente preocupante: 7.356 pessoas aguardam 174 dias pelo mapeamento de retina na Grande São Paulo, enquanto em Araçatuba esse prazo sobe para 316 dias, e em Campinas para 437 dias.

Reflexos na população

Anna Beathriz Cunha | Foto/Reprodução: arquivo pessoal

Anna Beathriz Cunha, de 36 anos, moradora de São Paulo capital, contou ao “Um Diabético” que está com problemas para se consultar com um oftalmologista.

“A minha questão maior é com o oftalmo mesmo. Porque, por exemplo, agora em março, eu vou fazer cirurgia, mas eu tô há um ano já esperando o meu pós-operatório, porque depois da cirurgia eu tenho que tirar um óleo, que tá dentro do meu olho, porque eu tenho retinopatia diabética. E aí, agora depois de um ano que eu consegui vaga […] pra eu conseguir a primeira consulta eu demorei quase uns seis, sete meses, quase um ano.”

Governador silencia diante dos apelos

O Vozes do Advocacy vem tentando contato direto com o governo estadual para apresentar soluções e discutir a crise do atendimento público. No entanto, as tentativas de diálogo foram ignoradas. Segundo a coordenadora da organização, Vanessa Pirolo, o grupo esteve em três reuniões com a Secretaria Estadual da Saúde em 2023, mas nenhuma medida concreta foi tomada. Além disso, uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), no ano passado, também não resultou em avanços.

Sem conseguir uma resposta do secretário de Saúde Eleuses Paiva, a organização passou a buscar um encontro direto com o governador. Um ofício foi enviado em junho de 2024, solicitando a reunião, mas até agora não houve retorno .

O descaso com o diabetes e a obesidade é um problema de saúde pública. Enquanto aguardam atendimento, muitos pacientes desenvolvem complicações graves, como a cegueira irreversível. A falta de ações concretas só agrava a situação e onera ainda mais o sistema público de saúde”, denuncia Vanessa Pirolo.

Tecnologia pode evitar complicações, mas não é prioridade do Estado

Outra demanda ignorada pelo governo paulista é a incorporação do Sistema de Monitoramento Contínuo de Glicose. Essa tecnologia permite que pessoas com diabetes monitorem seus níveis de glicose em tempo real, evitando picos de hipoglicemia e reduzindo a necessidade de internações. Apesar dos benefícios comprovados, um projeto de lei que previa a implementação do sistema não foi bem recebido pelo governador. O Vozes do Advocacy queria apresentar um projeto piloto para atender crianças e adolescentes do Estado, mas não conseguiu sequer um espaço de diálogo.

Além disso, a organização pede urgência na atualização da linha de cuidado da obesidade, destacando um caso emblemático: em janeiro de 2023, um jovem que convivia com obesidade faleceu no chão de uma ambulância após percorrer seis hospitais sem conseguir atendimento. A falta de infraestrutura e de um protocolo adequado para tratar a obesidade no SUS paulista segue sendo uma ameaça real à vida de muitos pacientes.

Pressão nas redes sociais

Diante do silêncio do governo, o Vozes do Advocacy decidiu lançar a campanha “Acesso à Saúde Não Pode Esperar”, com o objetivo de mobilizar a sociedade e pressionar o governador a responder aos pedidos de reunião. A ação busca engajar influenciadores digitais e a população em geral para cobrar uma posição do governo estadual .

Nós precisamos que o Estado de São Paulo olhe para o diabetes e a obesidade como prioridade. O custo da negligência já está aí: em 2021, o Brasil gastou US$ 42,9 bilhões com complicações do diabetes, sendo o terceiro maior gasto do mundo. Mais de 60% desse valor foi investido em tratar complicações evitáveis. Melhorar o acesso a consultas, exames e especialistas custa menos do que tratar os danos causados pela falta de cuidado”, ressalta Vanessa Pirolo.

Enquanto o tempo passa, pacientes sofrem

A demora no atendimento médico para pacientes com diabetes e obesidade não é apenas um problema burocrático. Cada dia de espera significa maior risco de complicações graves, como cegueira, amputações e falência renal. Enquanto isso, o governo estadual mantém-se inerte, sem apresentar medidas concretas para reduzir as filas e garantir acesso a um tratamento digno.

A população segue aguardando respostas – e os pacientes, esperando consultas que podem não chegar a tempo.

O que diz o governo do estado de São Paulo?

O portal “Um Diabético” entrou em contato com o governo de São Paulo para esclarecer se o ofício enviado pelo Vozes do Advocacy chegou ao conhecimento do governador Tarcísio de Freitas, mas até o fechamento desta matéria, não tivemos retorno.

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