Muita gente que convive com diabetes se assusta quando usa um sensor de glicose e percebe que os valores não batem exatamente com os do bom e velho teste de ponta de dedo. Mas, antes de achar que tem algo errado, é importante entender como cada método funciona. Conversamos com a endocrinologista Denise Franco que esclareceu de forma simples por que isso acontece. E já adiantamos: os dois estão certos, só medem em lugares diferentes do corpo.
A cidade do corpo humano
Vamos imaginar o corpo humano como uma cidade. Nessa cidade, as ruas principais são os vasos sanguíneos, por onde passa o sangue. E o sangue, claro, carrega a glicose, que é o açúcar usado como energia para o nosso organismo funcionar. Quando você mede a glicemia com o glicosímetro tradicional (aquele da picadinha no dedo), você está checando direto no sangue, ou seja, na rua principal dessa cidade.
Agora, quando você usa o sensor de glicose, como o FreeStyle Libre, a medição é feita de outro jeito. Em vez de medir o açúcar nas ruas, o sensor mede no “jardim” que fica entre as casas da cidade. Esse jardim é o líquido intersticial, que fica entre as células.
Monitoramento de glicemia no sangue e no líquido intersticial
A glicemia que a gente mede com o furo no dedo mostra a glicose no sangue, ou seja, o que está circulando ali naquele exato momento. Já o monitoramento de glicemia feito com sensor mostra a quantidade de glicose no líquido intersticial, que é absorvida com um pequeno atraso. Esse tempo de diferença costuma ser de 5 a 10 minutos entre a glicose aparecer no sangue e depois passar para o líquido intersticial.
Esse atraso é esperado e totalmente normal. O que acontece é que, quando comemos, a glicose sobe no sangue primeiro. Só depois ela passa para o interstício, onde o sensor consegue captar.
Por que os números não batem?
Imagine que você comeu um pão agora. A glicose vai subir no sangue quase que imediatamente, e o teste de ponta de dedo vai mostrar esse aumento rapidinho. Mas o sensor ainda está esperando essa glicose chegar no líquido intersticial. Por isso, se você comparar os dois valores exatamente no mesmo minuto, eles podem estar diferentes.
Essa diferença de valores é comum especialmente em momentos de variação rápida da glicose, como após uma refeição, após aplicar insulina ou durante uma atividade física intensa.
E qual método é melhor?
Na verdade, os dois são importantes, só têm funções diferentes. O teste de ponta de dedo é útil para medir a glicemia pontual, naquele exato segundo. Já o sensor traz uma visão mais ampla, porque mostra tendências e curvas ao longo do tempo, o que ajuda a entender como a glicose está se comportando durante o dia e a noite.
O monitoramento de glicemia contínuo com o sensor, no entanto, oferece dados em tempo real e também mostra se a glicose está subindo ou caindo. Isso dá muito mais autonomia para o paciente e ajuda a prevenir crises de hipo ou hiperglicemia, por exemplo.
Monitoramento de glicemia com menos dor e mais controle
Outro ponto que chama atenção é o conforto. O sensor elimina a necessidade de furar o dedo várias vezes por dia. Basta escanear com o celular ou leitor e pronto: os dados aparecem na tela. Além disso, conta com gráficos!
Além disso, para quem vive com diabetes, conseguir ver a tendência de subida ou queda da glicose faz toda a diferença no dia a dia. Isso ajuda a tomar decisões rápidas sobre alimentação, medicação ou atividade física.
VEJA O VÍDEO QUE EXPLICA A DIFERENÇA DA PONTA DE DEDO PARA O SENSOR DE GLICOSE.
Para quem é indicado o sensor?
Pessoas com diabetes tipo 1 e tipo 2 usam o sensor de glicose, principalmente aquelas que aplicam insulina diariamente e precisam de um controle mais rigoroso da glicemia. Além disso, crianças, adultos e idosos também podem se beneficiar da tecnologia, desde que consultem o médico regularmente para acompanhar os dados e fazer os ajustes necessários.
Se em algum momento você notou uma diferença entre o número exibido no seu sensor e o valor mostrado pelo glicosímetro, não precisa se preocupar. Essa diferença acontece porque os dois medem a glicose em locais diferentes do corpo e com tempos de resposta diferentes. Ou seja, não é erro, e sim uma característica natural de cada método de monitoramento de glicemia.
O importante é entender o funcionamento do monitoramento de glicemia com sensor e conversar com a equipe de saúde para ajustar o tratamento da melhor forma.
LEIA MAIS
- Insulina sem agulha? Como funciona o aplicador com jato de alta pressão
- Filho de Marília Mendonça com diabetes tipo 1: há relação do luto com diagnóstico? Psicólogo analisa
- Dia dos Namorados: casal com diabetes tipo 1 mostra como o amor fortalece o cuidado com a saúde