A luta contra o excesso de peso está longe de ser simples. Por isso, a chegada de novos medicamentos costuma abrir caminhos para novas opções de tratamento para muitos brasileiros. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso do Mounjaro no Brasil, nesta segunda-feira, 9 de junho de 2025, para o tratamento de sobrepeso e obesidade.
Fabricado pela empresa Eli Lilly, o Mounjaro já vinha sendo usado no tratamento de diabetes tipo 2. No entanto, com base em estudos recentes, a Anvisa aprovou o uso do medicamento para controle do peso em pessoas com IMC (índice de massa corporal) a partir de 30 (obesidade), ou a partir de 27 (sobrepeso) quando há alguma outra condição de saúde ligada ao peso, como pressão alta, colesterol alto ou pré-diabetes.
“A obesidade possui mais de 200 complicações associadas, incluindo um aumento no risco de diabetes tipo 2 em 243%; doenças cardíacas coronarianas em 69%; e hipertensão em 113%. Se o cenário atual já é grave, imaginemos o impacto em 20 anos, quando segundo projeção da WOF (World Obesity Federation), 75% dos adultos brasileiros poderão ter obesidade ou sobrepeso. Sendo assim, novas opções de tratamento trazem mais oportunidades de tratamento para quem vive com obesidade e está à procura de melhores alternativas para controle de peso”, explica Luiz Magno, Diretor Sênior da Área Médica da Lilly do Brasil.
O Mounjaro é mais eficaz?
Diferente de outros medicamentos já disponíveis, o Mounjaro atua em dois caminhos do corpo que ajudam no controle da fome e da saciedade. Na prática, isso quer dizer que o remédio ajuda a pessoa a comer menos e se sentir satisfeita por mais tempo. Assim, o tratamento facilita o emagrecimento, principalmente quando vem acompanhado de alimentação saudável e exercícios físicos regulares.
Em um estudo importante da Eli Lilly, chamado SURMOUNT-1, adultos com sobrepeso ou obesidade usaram Mounjaro por 72 semanas. Os resultados impressionam: quem tomou a dose mais alta (15 mg) perdeu, em média, 22,5% do peso corporal. Já com a dose menor (5 mg), a média foi de 16%. Além disso, quase metade dos participantes que usaram Mounjaro conseguiram reduzir mais de 40% do peso total, algo que até então era muito difícil de alcançar apenas com dieta e exercício.
O médico endocrinologista Marcio Krakauer conversou com o portal “Um Diabético” sobre a eficácia do Mounjaro e explicou como ele pode ser mais potente no tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade:
“O que o torna diferente de todos os outros é que os outros todos são agonistas apenas do GLP-1 e o Mounjaro tem essa mistura com o GIP. Que faz com que ele seja muito mais potente no controle do diabetes tipo 2 e também na perda de peso. Então, são ações que têm dois hormônios estimulados da mesma medicação, diferentemente dos outros.”
Relação com diabetes tipo 1
O portal “Um Diabético” foi atrás de uma informação que é muito questionada por quem convive com diabetes. Quem convive com o tipo 1, pode tomar o Mounjaro? O médico endocrinologista Rodrigo Mendes explica que o uso para DM1 ainda não foi autorizado, mas há estudos em andamento.
“Há pesquisas em andamento que podem mudar esse cenário. […] O estudo busca entender se a tirzepatida pode melhorar o controle glicêmico e reduzir o peso corporal nessa população específica, além de avaliar potenciais benefícios metabólicos adicionais. A depender dos resultados desse estudo e de outros que possam surgir, há sim uma perspectiva futura de ampliação da indicação da tirzepatida para pessoas com DM1, especialmente quando associada à obesidade.“
Mendes alerta que o uso fora de indicação pode oferecer “riscos importantes, como descompensações glicêmicas, e deve ser evitado até que evidências sólidas e aprovações regulatórias estejam disponíveis.“
Mounjaro no Brasil: onde encontrar e quanto custa?
Atualmente, o Mounjaro já está à venda no Brasil desde o mês passado. Inicialmente, a versão disponível chega em canetas aplicadoras, o que facilita o uso do remédio em casa. Além disso, cada caixa vem com quatro canetas, o que é suficiente para um mês de tratamento. No entanto, o preço pode variar de acordo com a forma de compra.
Por exemplo, quem participa do programa “Lilly Melhor Para Você” encontra o medicamento com valores a partir de R$ 1.406,75 (2,5 mg) e R$ 1.759,64 (5 mg). Em contrapartida, nas farmácias comuns, os preços podem chegar a R$ 2.384,34, dependendo da dose e do local de compra.
Quanto à aplicação, o processo é simples e rápido: o paciente apenas retira a tampa, posiciona a caneta, destrava e aplica o remédio com o botão. Além disso, a agulha já vem embutida, o que torna tudo mais prático, confortável e menos invasivo.
Cuidados e efeitos colaterais
Mesmo sendo bem tolerado, o Mounjaro pode causar alguns efeitos colaterais, especialmente no início do tratamento. Os mais comuns envolvem o sistema digestivo, como náuseas, diarreia e desconforto abdominal. Ainda assim, a maioria das pessoas consegue continuar o uso normalmente. É fundamental conversar com o médico antes de começar qualquer tratamento. Dr. Fernando Valente, endocrinologista afirma que o acompanhamento médico é muito importante!
“Muitas pessoas querem usar monjaro para emagrecimento. E muitos usam, compram sem receita médica, sem ter uma avaliação médica, sem entender como funciona o remédio, quais os potenciais efeitos colaterais, quais os efeitos benéficos, por quanto tempo, qual o ajuste de dose. Enfim, são inúmeras questões que precisam ser conversadas para minimizar os potenciais efeitos colaterais que existem, assim como em qualquer uso de medicamento que funcione.“
Vale lembrar que, a partir deste mês, as receitas de medicamentos deste segmento serão retidas nas farmácias para evitar superdosagens e problemas ao paciente.
Dr. Rodrigo Mendes alerta do porquê o Mounjaro e outros medicamentos da classe devem ser prescritos e acompanhados por um médico.
- Não é um produto estético: trata obesidade como doença, não o “desejo de emagrecer”;
- Pode ter efeitos adversos, como náuseas, vômitos, constipação, dentre outros;
- Requer acompanhamento clínico, inclusive para ajuste de dose;
- Nem todos os pacientes têm indicação: há critérios específicos (IMC, comorbidades, histórico de saúde);
- Uso inadequado pode causar riscos sérios, especialmente em pessoas com sarcopenia importante, histórico de distúrbios alimentares ou doenças gastrointestinais.
Por isso, o uso sem orientação médica não é seguro, nem ético. O tratamento da obesidade deve ser individualizado, contínuo e supervisionado por um especialista.
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