Muitas pessoas não sabem, mas a qualidade do sono tem impacto direto na saúde, especialmente para quem vive com diabetes. Dormir mal pode prejudicar o controle da glicemia, aumentar o risco de complicações e até dificultar o tratamento. A endocrinologista e pesquisadora Denise Franco destaca a importância de avaliar o sono dos pacientes com diabetes.
“Parte de uma rotina de quem trabalha com alguém que tem diabetes, que tem obesidade, hipertensão, é fazer a pergunta sobre a qualidade do sono. Muitas vezes ela é esquecida, né? Porque a pessoa não vem de primeiro momento e fala: ‘ah, meu sono é ruim.’ Muitas vezes, hoje a gente tá falando mais, né?“
Para saber se a qualidade do sono está afetada para quem convive com alguma condição crônica, tem algumas questões básicas pra saber se pode haver algum problema.
“Mas, a hora que você faz uma pergunta, são umas perguntas simples que a gente pode falar. Você dorme no meio da tarde? Está dirigindo, dá vontade de dar aquele cochilinho? Você, quando fica parado num canto, você dorme? A gente tem uma escala que a gente pode fazer, uma escala bem simples, que você pode ver qual é o grau de comprometimento da qualidade do sono no dia a dia da pessoa. Porque às vezes a pessoa deita, para ela ela dorme, mas no fundo ela não dorme. É isso? E ela não percebe”, explica Denise.
Como o sono afeta o controle da glicemia
A relação entre sono e diabetes é complexa. Quando a pessoa dorme mal, o corpo produz mais hormônios do estresse, como o cortisol, que aumentam a resistência à insulina e elevam os níveis de glicose no sangue. Além disso, a falta de sono pode alterar os hormônios que controlam o apetite, como a grelina e a leptina, levando a escolhas alimentares inadequadas e ganho de peso, fatores que contribuem para o desenvolvimento do diabetes tipo 2.
Estudos mostram que pessoas que dormem menos de seis horas por noite ou mais de oito horas têm maior risco de desenvolver diabetes tipo 2, mesmo mantendo uma dieta saudável. Além disso, padrões de sono irregulares, como dormir muito durante o fim de semana para compensar a falta de sono durante a semana, também aumentam esse risco. Portanto, a consistência no horário de dormir é tão importante quanto a quantidade de sono.
Distúrbios comuns em pessoas com diabetes
Quem tem diabetes pode enfrentar problemas de sono específicos, como:
- Apneia do sono: interrupções na respiração durante o sono, que afetam a qualidade do descanso e aumentam a resistência à insulina;
- Síndrome das pernas inquietas: sensações desconfortáveis nas pernas que causam movimentos involuntários e dificultam o sono;
- Hipoglicemia noturna: queda de glicose no sangue durante a noite, que pode acordar a pessoa e prejudicar o descanso.
Esses distúrbios podem piorar o controle glicêmico e aumentar o risco de complicações associadas ao diabetes.
Estratégias para melhorar a qualidade do sono
Melhorar o sono é fundamental para o controle do diabetes. Algumas dicas incluem:
- Manter uma rotina de sono regular: dormir e acordar nos mesmos horários todos os dias, inclusive nos fins de semana;
- Criar um ambiente propício para o sono: garantir que o quarto seja escuro, silencioso e com temperatura agradável;
- Evitar estimulantes antes de dormir: reduzir o consumo de cafeína, nicotina e bebidas alcoólicas nas horas que antecedem o sono;
- Praticar atividades relaxantes: ler, meditar ou tomar um banho morno pode ajudar a relaxar o corpo e a mente;
- Evitar refeições pesadas antes de dormir: evitar comer alimentos gordurosos ou picantes nas horas que antecedem o sono.
Além disso, é importante tratar distúrbios do sono com a ajuda de profissionais de saúde, para melhorar a qualidade do descanso e o controle glicêmico.
A qualidade do sono é um fator crucial no controle do diabetes. Dormir mal pode aumentar o risco de complicações e dificultar o tratamento da doença. Portanto, é essencial que profissionais de saúde avaliem a qualidade do sono dos pacientes com diabetes e orientem sobre hábitos saudáveis de sono. Com pequenas mudanças na rotina, é possível melhorar o descanso e, consequentemente, a saúde geral.
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