Quando uma criança recebe o diagnóstico de diabetes tipo 1, a rotina da família muda por completo. Cada refeição, cada atividade e cada noite de sono passam a depender de controle, atenção e muitos cuidados. Foi justamente nesse cenário, cheio de desafios e dúvidas, que nasceu o Mundo Doce, um projeto social criado por Thaís Tozetti, mãe da Annelisy e do Anthony. Ela conversou com o portal “Um Diabético” sobre o projeto e como tudo começou!
A ideia surgiu da dor, mas também do desejo de transformar a realidade de outras famílias que vivem a mesma jornada.
Diabetes: um diagnóstico que virou ponto de partida
Thaís recebeu a notícia do diagnóstico de diabetes tipo 1 de sua filha mais velha, Annelisy, em 2020. Na época, a menina tinha apenas 4 anos. Durante mais de um ano e meio, Thaís e sua família tentaram, sozinhos, entender como lidar com os cuidados diários do diabetes tipo 1 em uma criança tão pequena. A rotina exigia atenção constante e muitos aprendizados, e quase não apareciam respostas claras.
Sem saber por onde começar, Thaís procurou informações na internet. Com o tempo, encontrou outras mães que enfrentavam os mesmos dilemas. Foi assim que conheceu o projeto Doce Encontro, em São Paulo, liderado por outra mãe, Andressa, que também convive com o diabetes da filha.
Ao perceber que não estava sozinha, Thaís ganhou coragem. Decidiu levar para sua região algo parecido, que unisse acolhimento, troca de experiências e apoio prático. E foi assim que o Mundo Doce ganhou vida.
O primeiro encontro uniu emoção e solidariedade
Em março de 2023, Thaís iniciou a busca por outras crianças com diabetes tipo 1 e suas famílias. Com apoio de amigos, familiares e da comunidade conhecida como família Pâncreas, ela conseguiu encontrar famílias na região de Campo Limpo Paulista e Jundiaí, no interior Paulista. A mobilização cresceu, e algumas empresas ligadas ao universo do diabetes contribuíram com brindes e kits para as crianças.
Em maio de 2023, o primeiro “Picnic Mundo Doce” saiu do papel. O encontro foi marcado por emoção, carinho e muita troca. As crianças ganharam kits com insumos importantes para o tratamento diário, e as famílias encontraram, finalmente, um espaço de acolhimento. Pela primeira vez, muitos pais puderam conversar com quem realmente entende o que é conviver com o diabetes tipo 1 desde cedo.
“O meu sonho sempre foi poder ajudar outras famílias a ter esse contato, a ter esse acolhimento que eu não tive no começo. Senti a necessidade de ajudar de alguma forma, indo atrás das empresas para conseguir doação“, diz Thais
Encontros acontecem duas vezes por ano
Desde então, o projeto realiza encontros duas vezes ao ano. A cada edição, mais famílias se juntam, mais crianças participam e mais empresas contribuem. Os kits incluem desde materiais de uso diário até produtos de alimentação, cuidado e orientação.
Além da distribuição dos kits, o Mundo Doce oferece momentos de escuta, aprendizado e lazer. Os encontros ajudam as famílias a se sentirem menos isoladas e mais preparadas para lidar com o dia a dia do diabetes tipo 1.
Custo do tratamento de diabetes exige apoio constante
Além do acolhimento emocional, o Mundo Doce também chama atenção para o alto custo do tratamento. Muitas famílias chegam a gastar mais de R$ 1.200 por mês com insumos, alimentação, medidores, sensores e outros cuidados. Em muitos casos, um dos pais precisa deixar o trabalho para cuidar exclusivamente da criança, o que aumenta ainda mais o impacto financeiro.
Com o crescimento do projeto, o Mundo Doce conseguiu montar uma rede de profissionais voluntários, que atuam diretamente com as famílias. Atualmente, o projeto conta com a colaboração de duas nutricionistas, uma endocrinologista pediatra, uma psicóloga, uma dentista e uma educadora física.
“Esses encontros salvaram a minha vida e a vida da minha filha. Transformaram o modo como a gente viu o diagnóstico. No começo a gente enxerga como uma sentença, né? Mas não. É o início de uma nova vida. E hoje eu enxergo isso. Através do que a gente já passou, através do que a minha filha passa todos os dias, a gente tá conseguindo ajudar outras famílias e outras pessoas“, afirma a idealizadora do projeto
Esses profissionais compartilham orientações importantes durante os encontros e ajudam os pais a tirar dúvidas que costumam aparecer no dia a dia. A presença desses especialistas torna os encontros ainda mais completos.
Além disso, o projeto segue em busca de oftalmologistas e advogados voluntários, que possam oferecer informações sobre direitos, exames preventivos e cuidados com a visão, área muito sensível para quem vive com diabetes tipo 1.
Famílias acolhidas
Hoje, o Mundo Doce já acolhe mais de 35 famílias. O projeto se tornou referência na região para quem recebe o diagnóstico e não sabe por onde começar. Muitas mães e pais chegam perdidos, assim como Thaís um dia se sentiu. Mas ao encontrarem o grupo, percebem que não estão mais sozinhos.
Com base no afeto, na troca de experiências e no apoio prático, o Mundo Doce segue crescendo. Cada nova criança acolhida representa mais uma oportunidade de fazer a diferença e garantir mais leveza no enfrentamento da doença.
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