A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) lançou uma nova diretriz nacional para orientar profissionais de saúde e a população sobre como diagnosticar e fazer a triagem precoce do diabetes tipo 2. O documento foi publicado na revista científica Diabetology & Metabolic Syndrome em março, com o apoio de pesquisadores de várias universidades do Brasil.
A partir de então, a grande meta da atualização é clara: detectar o diabetes o quanto antes, para evitar complicações graves como infarto, AVC, cegueira, problemas renais e amputações. Além disso, a diretriz também reforça o combate ao subdiagnóstico. Atualmente, quase 1 em cada 3 pessoas com diabetes no Brasil não sabe que tem a doença.
Por que a diretriz para diabetes tipo 2 precisou ser atualizada agora?
Com o aumento de casos de diabetes no Brasil, especialmente entre os jovens, e as novas evidências científicas disponíveis, a SBD entendeu que era hora de modernizar suas recomendações. O país ocupa hoje a 6ª posição mundial no número total de pessoas com diabetes entre 20 e 79 anos, segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF).
Além disso, o Brasil tem a maior prevalência de diabetes tipo 2 entre jovens, e muitas dessas pessoas descobrem a doença tarde demais, quando já apresentam complicações. Por isso, a nova diretriz aposta em exames mais práticos, diagnósticos mais rápidos e em triagem mais abrangente, inclusive para crianças e adolescentes.
Quem deve fazer os exames para diabetes tipo 2?
Adultos
A triagem para pessoas sem sintomas agora é obrigatória a partir dos 35 anos de idade. Já para adultos entre 18 e 34 anos, é recomendada se houver excesso de peso (IMC acima de 25 kg/m²) e pelo menos um fator de risco adicional, como:
- Histórico familiar de diabetes tipo 2;
- Pressão alta;
- Colesterol HDL abaixo de 35 mg/dL;
- Triglicerídeos acima de 250 mg/dL;
- Ovários policísticos;
- Sinais como manchas escuras na pele (acantose nigricans);
- Uso de medicamentos que alteram a glicose (ex: corticoides).
Crianças e adolescentes
Houve avanço importante para o público jovem. A diretriz também recomenda testar crianças com excesso de peso a partir dos 10 anos de idade ou do início da puberdade, se apresentarem:
- Histórico familiar de diabetes tipo 2;
- Hipertensão, colesterol alto ou resistência à insulina;
- Nascimento com baixo peso;
- Síndrome dos ovários policísticos (no caso das meninas).
Quais exames são indicados para diagnosticar o diabetes?
Ainda segundo o estudo divulgado, a diretriz recomenda usar um ou mais dos seguintes exames:
Exame | Resultado para diagnóstico de diabetes |
---|---|
Glicemia de jejum | maior ou igual a 126 mg/dL |
Hemoglobina glicada (HbA1c) | maior ou igual a 6,5% |
Teste oral de tolerância à glicose – 1h (1h-OGTT) | maior ou igual a 209 mg/dL |
Teste oral de tolerância à glicose – 2h (2h-OGTT) | maior ou igual a 200 mg/dL |
Glicemia aleatória + sintomas clássicos | maior ou igual a 200 mg/dL |
O que muda na prática para diagnosticar o diabetes tipo 2?
A principal mudança está na forma de triagem inicial. A partir de agora, os especialistas sugerem que o primeiro passo seja fazer os exames de glicemia de jejum e HbA1c juntos, usando a mesma amostra de sangue. Portanto, se der alteração ou se houver dúvidas, o exame de glicose após 1 hora de ingestão de açúcar entra como exame complementar.
Além disso, o teste de tolerância à glicose, também conhecido como OGTT, ganha destaque por ter boa precisão e ser mais confortável para o paciente. Ele identifica com mais clareza quem tem risco alto de desenvolver diabetes no futuro, mesmo se os outros exames parecerem normais.
E se só um dos exames der alterado?
A nova diretriz orienta que, se apenas um dos exames estiver alterado, ele deve ser repetido para confirmação. Por isso, o ideal é repetir o mesmo teste e não partir direto para outro diferente. Isso evita erros de diagnóstico.
O estudo mostra que exames como a glicemia de jejum e os testes após ingestão de açúcares podem variar de um dia para o outro. Portanto, a confirmação com dois resultados positivos é mais segura.
A SBD recomenda o uso de um questionário gratuito chamado FINDRISC, disponível no site. Ele ajuda a calcular o risco de desenvolver diabetes tipo 2 nos próximos 10 anos com base em:
- Idade;
- Peso e altura (IMC);
- Circunferência abdominal;
- Atividade física;
- Alimentação;
- Pressão alta;
- Histórico familiar;
- Níveis anteriores de glicose.
Se o escore for alto ou muito alto, o ideal é procurar um médico. Isso porque é necessário fazer os exames o quanto antes.
E se eu tiver pré-diabetes? Ainda dá tempo de mudar
O pré-diabetes é uma condição de alerta. A pessoa ainda não tem diabetes, mas seus níveis de glicose já estão acima do normal. Isso mostra que o corpo começa a perder o controle da glicose, e o risco de evoluir para diabetes tipo 2 é grande. Mas reversível com mudanças no estilo de vida.
Segundo a diretriz, as taxas de progressão do pré-diabetes para o diabetes podem variar de 5,8% a 18,3% ao ano. Ou seja: o diagnóstico precoce pode evitar ou adiar a doença por muitos anos.
De quanto em quanto tempo devo repetir os exames?
A frequência dos exames depende do risco de cada pessoa:
Situação | Frequência mínima de repetição |
---|---|
Exames normais e baixo risco | A cada 3 anos |
Três ou mais fatores de risco / FINDRISC alto | A cada 12 meses |
Pré-diabetes | A cada 12 meses |
Apenas um exame alterado, sem confirmação | A cada 6 meses |
Quanto mais cedo, melhor
Com recomendações baseadas em evidências científicas sólidas, a nova diretriz de rastreamento do diabetes tipo 2 busca facilitar o diagnóstico precoce, reduzir as complicações e promover mais qualidade de vida para milhões de brasileiros.
Fazer os exames certos, na hora certa, salva vidas e evita sofrimentos. O recado dos especialistas é claro. Portanto, vale muito a pena se cuidar agora para não tratar as consequências depois.
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