A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou na última segunda-feira, 14, o registro da primeira vacina contra a chikungunya no Brasil. O imunizante foi desenvolvido pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica franco-austríaca Valneva. A partir da decisão, o país passa a contar com uma ferramenta fundamental no combate a uma das doenças tropicais que mais crescem nas Américas.
A doença, transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti, pode ser um risco para quem convive com diabetes. Por isso, fique atento às informações!
Alta eficácia e aprovação internacional
A vacina se mostrou eficaz. Nos Estados Unidos, testes clínicos com 4 mil voluntários de 18 a 65 anos revelaram que 98,9% dos participantes desenvolveram anticorpos neutralizantes contra o vírus da chikungunya. Esses níveis de proteção continuaram altos por pelo menos seis meses, segundo estudo publicado na prestigiada revista científica The Lancet.
Além da aprovação no Brasil, o imunizante já recebeu o aval da FDA (agência reguladora dos EUA) e da EMA (agência europeia). Por isso, reforça a segurança e a confiança em sua aplicação em larga escala.
Como a vacina será distribuída no Brasil?
Apesar da liberação da Anvisa, a chegada da vacina ao Sistema Único de Saúde (SUS), no entanto, ainda depende de análises da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (CONITEC) e de outros órgãos de saúde. O diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, afirmou que o plano do Ministério da Saúde pode priorizar moradores de áreas endêmicas.
“A partir da aprovação pelo CONITEC, a vacina poderá ser fornecida estrategicamente. No caso da chikungunya, é possível que o plano do Ministério seja vacinar primeiro os residentes de regiões endêmicas, ou seja, que concentram mais casos”, afirmou Kallás.
O Butantan também desenvolve uma versão da vacina com produção parcial no Brasil, o que deve facilitar principalmente a logística e a integração ao sistema público.
Impacto da chikungunya em pessoas com diabetes
O avanço na vacinação é ainda mais importante quando se considera o impacto da chikungunya em pessoas com doenças crônicas, especialmente o diabetes. Pesquisas recentes mostram que esse grupo tem risco aumentado de complicações graves após contrair a doença.
Um estudo publicado na revista The Lancet Infectious Diseases acompanhou adolescentes brasileiros vacinados. Os resultados foram animadores: 100% dos que já tinham tido contato anterior com o vírus e 98,8% dos que não tinham histórico desenvolveram proteção após uma única dose. Em seis meses, a proteção se manteve em 99,1% dos jovens.
Contudo, um outro estudo, publicado também na Lancet, investigou o risco de morte após infecção por chikungunya. Entre 2015 e 2018, 1.933 pessoas que contraíram a doença morreram em até 294 dias após os sintomas. O risco de morte foi 8,75 vezes maior entre o primeiro e o sétimo dia da infecção.
Diabetes aumenta o risco de complicações da chikungunya
Entre os achados mais relevantes do estudo, por exemplo, o diabetes aparece como uma das comorbidades que mais agravam o quadro da chikungunya. Especificamente, dentro dos 28 primeiros dias de sintomas, pessoas com diabetes apresentaram risco 8,43 vezes maior de morte em comparação com pacientes com doenças cerebrovasculares (2,73 vezes) e cardíacas isquêmicas (2,38 vezes). Portanto, os dados reforçam a importância de atenção especial a esse grupo vulnerável.
Esses números reforçam a necessidade de uma abordagem estratégica na vacinação, priorizando também pessoas com condições crônicas como o diabetes, mesmo que não estejam em regiões endêmicas.
Avanço que salva vidas
A chikungunya não causa apenas febre e dores articulares intensas. Ela pode evoluir para quadros de dor crônica que duram anos, além de desencadear complicações potencialmente fatais em pessoas mais vulneráveis.
Por isso, a aprovação da vacina representa mais do que uma conquista científica. Ela traz esperança para quem convive com o medo constante da infecção — e, principalmente, para os mais expostos ao risco de agravamento.
Com o Brasil entre os países mais afetados pela doença em 2024, ao lado de Paraguai, Argentina e Bolívia, a chegada desse imunizante marca um divisor de águas. A partir de agora, os próximos passos são fundamentais para garantir que a proteção chegue a quem mais precisa, com urgência e responsabilidade.
LEIA MAIS
- Diabetes e ansiedade: como o estresse impacta o controle da glicemia
- Quantas vezes devo medir a glicemia no dia? Entenda
- Visão embaçada: pode ser miopia ou um sinal de diabetes?