Uma pesquisa internacional, publicada na revista Mayo Clinic Proceedings, recentemente jogou luz sobre as complicações ligadas à técnica de aplicação de insulina em pessoas com diabetes. Aliás, considerado o maior levantamento global sobre o tema, o estudo reuniu respostas de 13.289 participantes em 423 centros de 42 países. Os dados, por sua vez, impressionam: cerca de 30% dos pacientes apresentam lipohipertrofia, acúmulo de gordura subcutânea em locais de aplicação frequente.
Consequentemente, essa complicação impacta diretamente o controle da glicemia e aumenta o risco de episódios graves, como hipoglicemia assintomática e cetoacidose. Por fim, a análise ficou a cargo da enfermeira pediatra e educadora em diabetes Rebecca Ortiz La Banca, que integra o Departamento de Enfermagem da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
O levantamento utilizou o Injection Technique Questionnaire (ITQ), ferramenta aplicada desde 1995 para mapear hábitos e técnicas de injeção de insulina. De acordo com os resultados, a lipohipertrofia ocorre duas vezes mais em pessoas com diabetes tipo 1 e quase não aparece em gestantes com diabetes. Na maioria dos casos, as lesões medem cerca de 35 mm nos braços e 50 mm nos glúteos. Mais alarmante ainda: 44% dos pacientes continuam aplicando insulina nas áreas afetadas, e 35% afirmam que fazem isso simplesmente por hábito.
Rodízio inadequado na aplicação de insulina
O estudo identificou uma forte ligação entre a presença de lipohipertrofia e o rodízio incorreto dos locais de aplicação. Outros fatores que agravam o quadro incluem o uso prolongado da mesma agulha e o tempo prolongado em insulinoterapia. Além disso, quanto maior a reutilização das agulhas, maiores as chances de lesões e agravamento da lipohipertrofia.
A falta de orientação adequada também se destacou como ponto crítico. Pacientes que receberam instruções recentes mostraram maior propensão a realizar o rodízio correto. Quando aplicada corretamente, com distância mínima de 1 cm entre as aplicações, a técnica ajuda a reduzir a hemoglobina glicada, marcador essencial do controle do diabetes.
Outros riscos ao repetir o mesmo local de aplicação
Além das lesões, o estudo chamou atenção para outros efeitos adversos. Por exemplo, 60% dos entrevistados relataram hematomas ou sangramentos ocasionais. Mais da metade afirmou sentir dor durante a aplicação, principalmente crianças, adolescentes e mulheres com diabetes tipo 1. Ainda, 37% perceberam refluxo ou extravasamento de insulina na pele após a injeção. Esse problema, porém, pode ser evitado mantendo a agulha na pele por pelo menos 10 segundos após a aplicação.
Outro dado preocupante: quase 40% dos pacientes não se lembram de ter tido os locais de aplicação examinados durante consultas médicas. Muitos também não receberam orientações básicas, como a profundidade correta da injeção, a mistura segura de insulinas e o descarte adequado de agulhas e seringas.
Papel fundamental dos profissionais de saúde
O estudo reforça a importância dos profissionais de saúde, especialmente enfermeiros, na orientação das pessoas que utilizam insulina. Pacientes bem acompanhados apresentaram melhores índices de hemoglobina glicada e menor prevalência de complicações. A inspeção dos locais de aplicação, quando incluída nas consultas de rotina, mostrou-se decisiva para prevenir lesões e melhorar o controle glicêmico.
Para os especialistas, os resultados servem de alerta. Com pequenas mudanças de hábito e orientação adequada, é possível melhorar significativamente a qualidade de vida das pessoas com diabetes e evitar complicações graves ligadas à técnica de aplicação da insulina.
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