Na última quarta-feira, 9, uma decisão histórica marcou a luta contra o diabetes relacionado à desnutrição. A Federação Internacional de Diabetes (IDF) reconheceu oficialmente essa forma da doença como um tipo distinto, agora chamado de diabetes tipo 5. O anúncio aconteceu durante o Congresso Mundial de Diabetes, em Bangkok, na Tailândia.
A médica Meredith Hawkins, professora e diretora do Instituto Global de Diabetes da Faculdade de Medicina Albert Einstein, conduziu anos de pesquisa e defesa que resultaram na nova classificação. Segundo ela, a condição sempre foi pouco diagnosticada e mal compreendida.
“O diabetes relacionado à desnutrição tem sido historicamente subdiagnosticado e mal compreendido. O reconhecimento do diabetes tipo 5 pela IDF é um passo importante para aumentar a conscientização sobre um problema de saúde tão devastador para tantas pessoas”, completou Dra. Hawkins.
Diabetes tipo 5: problema escondido há décadas
Embora o diabetes tipo 2 seja o mais conhecido nos países em desenvolvimento, o diabetes tipo 5 tem outra origem: a falta de comida. Estima-se que, entre 20 a 25 milhões de pessoas em todo o mundo, convivam com essa forma da doença, principalmente em regiões da Ásia e da África.
Para a Dra. Meridith, a situação é alarmante. “Os médicos ainda não têm certeza de como tratar esses pacientes, que muitas vezes não vivem mais de um ano após o diagnóstico”, destacou.
Os primeiros relatos sobre essa condição surgiram há cerca de 70 anos. Na época, além disso, vários estudos mostraram altos números de casos em países pobres. Posteriormente, em 1985, a Organização Mundial da Saúde chegou a reconhecer a doença como uma forma específica de diabetes. No entanto, em 1999, a entidade retirou essa classificação, justificando, na ocasião, a decisão pela falta de provas concretas.
Da sala de aula para os grandes congressos: a descoberta do diabetes tipo 5
A Dra. Meredith Hawkins soube da situação em 2005, durante eventos internacionais sobre saúde. No contexto, segundo ela, médicos de vários países compartilhavam as mesmas observações: estavam tratando jovens magros com uma forma incomum de diabetes. A primeira suspeita era de que fosse diabetes tipo 1, que geralmente aparece em pessoas magras e jovens. No entanto, as injeções de insulina, que costumam controlar o tipo 1, não funcionavam. Por isso, até em alguns casos, baixavam demais o nível de açúcar no sangue dos pacientes.

Foto: Reprodução/Faculdade de Medicina Albert Einstein
“Foi muito confuso“, relembrou a pesquisadora.
Em 2010, ela decidiu agir. Criou, portanto, o Instituto Global de Diabetes para liderar as investigações e entender melhor o que estava por trás dessa doença ligada à desnutrição.
Rumos da história
Um estudo importante veio em 2022. Em parceria com o Christian Medical College, na Índia, a equipe de Hawkins comprovou que o diabetes tipo 5 é bem diferente dos tipos mais conhecidos.
Antes, muitos especialistas achavam que a doença era causada por resistência à insulina, como no diabetes tipo 2. No entanto, os estudos mostraram o contrário. “Pessoas com essa forma de diabetes apresentam um defeito profundo na capacidade de liberar insulina, que não era reconhecido antes“, explicou a Dra. Hawkins. “Essa descoberta revolucionou a forma como pensamos sobre essa condição e como devemos tratá-la“, completou.
Caminhos para o futuro
Em janeiro deste ano, Hawkins e colegas organizaram uma reunião internacional na Índia, reunindo especialistas de vários países para debater como classificar e tratar o diabetes tipo 5. Os participantes foram unânimes: a condição precisava ser reconhecida como uma forma própria da doença.
No Congresso Mundial de Diabetes, o presidente da IDF, Peter Schwarz, confirmou a decisão e anunciou a criação de um grupo de trabalho dedicado exclusivamente ao diabetes tipo 5. A Dra. Meridith vai copresidir essa iniciativa, que tem como missão criar orientações claras para diagnóstico e tratamento nos próximos dois anos.
A médica acredita que o reconhecimento oficial pode abrir portas para grandes avanços.
“O diabetes relacionado à desnutrição é mais comum que a tuberculose e quase tão comum quanto o HIV/AIDS, mas a falta de um nome oficial tem dificultado os esforços para diagnosticar pacientes ou encontrar terapias eficazes”, destacou.
Cheia de esperança, ela concluiu:
“Tenho esperança de que esse reconhecimento formal como diabetes tipo 5 leve ao progresso contra essa doença há muito negligenciada que debilita gravemente as pessoas e muitas vezes é fatal.“
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