Você já imaginou como seria a vida de milhões de pessoas se, de um dia para o outro, a insulina desaparecesse das farmácias? Parece um cenário extremo. Mas é uma ameaça real. Silenciosa. Global. Além disso, é urgente. Acompanha a análise da advogada especialista em Direito à Saúde, Maria Eloisa Malieri
A escassez de insulina não atinge só países em desenvolvimento. Também está presente em nações ricas, como os Estados Unidos, onde pacientes racionam doses ou dependem de ONGs para sobreviver. Em várias regiões da África, a insulina nem chega. E o Brasil? Também corre riscos, porque depende quase totalmente da importação.
Insulina pelo mundo
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 80% da produção de insulina do mundo está nas mãos de apenas três grandes empresas. Isso torna o acesso vulnerável a qualquer crise: seja uma pandemia, um conflito internacional, uma falha na cadeia de suprimentos ou até uma decisão comercial.
No Brasil, mesmo os poucos lotes fabricados aqui ainda utilizam insumos vindos de fora, principalmente da Índia. Ou seja, se algo falha no exterior, a consequência chega por aqui. E rápido.
Mas existe um caminho. E ele já começou a ser trilhado.
Brasil tem potencial para liderar uma mudança global
Em 2023, um marco importante deu novos rumos à história da insulina no país. A empresa Biomm inaugurou, em Minas Gerais, uma fábrica com capacidade para produzir insulina nacional. Além disso, uma parceria entre o governo e a Fiocruz busca desenvolver insumos estratégicos em solo brasileiro. Esses passos mostram que temos estrutura, inteligência técnica e capacidade de produção. Mas ainda é pouco.
Produzir insulina no Brasil não é só uma decisão econômica. É uma questão de saúde pública. E também de soberania. Porque nenhum país pode depender exclusivamente do mercado internacional para garantir a vida de milhões de pessoas.
O que está em jogo é a vida
A insulina é um hormônio vital. Sem ela, quem vive com diabetes tipo 1 não sobrevive. Nem por um único dia. E quem tem diabetes tipo 2 também pode precisar dela em diferentes fases do tratamento. Por isso, tratar o acesso à insulina como uma questão de mercado, lucro ou política é perigoso. E injusto.
A luta é complexa. Mas tem solução. Para a advogada especialista em Direito à Saúde, Maria Eloisa Malieri, o momento é decisivo:
“Estamos diante de um desafio global. Mas o Brasil pode e deve reagir com protagonismo. A produção nacional de insulina representa um passo estratégico em várias frentes: garante abastecimento, reduz a dependência externa, fortalece o SUS e, acima de tudo, protege a vida de quem precisa dessa medicação todos os dias.“
Ela alerta que o país precisa agir com planejamento e seriedade.
“Essa discussão não pode ser adiada. É necessário um compromisso real entre governo, setor privado, agências reguladoras e sociedade civil. O acesso à insulina tem que estar acima de interesses comerciais. Quando falamos de medicamentos essenciais, falamos de direitos fundamentais.“
Maria Eloisa também reforça que a Constituição garante esse direito.
“A saúde é um direito constitucional. O Estado brasileiro tem obrigação legal de garantir o acesso a tratamentos eficazes. E a insulina está entre os mais essenciais. Não se trata de um benefício ou um favor. É dever do poder público. E é responsabilidade de todos nós cobrar que isso seja cumprido.“
O que pode mudar com a produção nacional de insulina
Fortalecer a fabricação de insulina no Brasil pode trazer benefícios em várias áreas. Entre eles:
- Redução do risco de desabastecimento;
- Acesso mais rápido e direto para pacientes;
- Estímulo à chegada de novas farmacêuticas;
- Criação de empregos e inovação científica;
- Autonomia tecnológica e soberania em saúde.
Além disso, uma cadeia de produção sólida pode baratear custos e ampliar o alcance do SUS. E, claro, salvar vidas.
O papel da sociedade nessa luta pela insulina
A mudança depende de políticas públicas. Mas também precisa de mobilização. Cada pessoa que vive com diabetes pode (e deve) fazer parte desse movimento. Quanto mais gente fala, cobra, compartilha e mostra a urgência do tema, mais difícil se torna ignorar.
Afinal, o acesso à insulina é uma causa coletiva. E o futuro pode começar aqui. Com informação, engajamento e pressão social. Porque viver com diabetes não pode ser um risco. Tem que ser um direito.