Especialistas dão dicas valiosas para um retorno escolar agradável, com uma lancheira saborosa e um bom gerenciamento da glicose
As férias acabaram, e com o retorno das aulas, surge a missão de preparar a lancheira perfeita para os pequenos. Para pais de crianças com diabetes, essa tarefa exige um pouco mais de atenção e planejamento, mas pode ser uma oportunidade de ensinar bons hábitos alimentares e garantir que os lanches sejam não só nutritivos, mas também saborosos e práticos. Afinal, uma lancheira bem pensada ajuda a manter os níveis de glicose sob controle e dá a energia necessária para enfrentar o dia escolar com disposição.
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Patricia Ruffo, nutricionista e Gerente Científico da Divisão Nutricional da Abbott no Brasil, ressalta que o tratamento nutricional para crianças com diabetes tipo 1 não se baseia mais em restrições severas, mas sim em uma educação alimentar cuidadosa.
A nutricionista ainda disse que tratamento de crianças com diabetes tipo 1 é desafiador devido às particularidades da faixa etária. Essas crianças enfrentam irregularidades no padrão de alimentação, sono, e atividade física, além de necessitarem de doses menores de insulina e estarem sob maior risco de hipoglicemia noturna e variabilidade glicêmica.
A terapia nutricional é um dos componentes mais complexos desse tratamento, porque exige um planejamento alimentar cuidadoso, focado na educação em vez de restrições severas. Essa abordagem permite uma alimentação mais flexível, sempre ajustada às necessidades individuais e ao tipo de insulina utilizado.
“O objetivo é planejar as refeições e porções, focando especialmente nos carboidratos e na compatibilidade com o tipo de insulina utilizada. Isso permite uma maior flexibilidade e evita que a alimentação se torne um fardo”, explica Ruffo.
Ela também diz a importância de seguir o guia alimentar brasileiro como referência, com ajustes específicos para o controle de carboidratos. “Escolher carboidratos ricos em fibras e minimamente processados é essencial. Por exemplo, pães feitos com grãos integrais e frutas in natura são ótimas opções para a lancheira. Além disso, a contagem de carboidratos é uma ferramenta importante, permitindo que pais e crianças aprendam a identificar porções e façam substituições alimentares apropriadas”, acrescenta.
Dicas práticas para a lancheira escolar
Para ajudar os pais a compor uma lancheira saudável e atrativa para crianças com diabetes, Ruffo oferece algumas dicas essenciais:
Frutas frescas: inclua sempre uma fruta, de preferência já cortada e descascada. A aparência é fundamental para atrair a criança.
Carboidratos de qualidade: opte por carboidratos ricos em fibras, como pães integrais ou de milho, variando para evitar que a criança enjoe. Recheios saudáveis, como patês caseiros, são uma boa pedida.
Proteínas nutritivas: garanta a presença de uma fonte de proteína, essencial para equilibrar a refeição.
Petiscos Saudáveis: frutas desidratadas, mix de castanhas e cereais sem açúcar são opções práticas e nutritivas. Armazene-os em potes fechados ou saquinhos.
Lancheira térmica: utilize uma lancheira térmica para manter os alimentos frescos e seguros até a hora do recreio.
Além disso, Ruffo aconselha planejar os lanches com antecedência para evitar excessos e facilitar a rotina. Incluir a criança no processo de escolha dos itens pode aumentar a aceitação dos alimentos. “É importante que a lancheira reflita os hábitos alimentares de casa. Colocar algo que a criança não está acostumada a comer pode resultar em rejeição”, observa Ruffo.
Tornando a lancheira atraente e nutritiva
Além de focar na composição nutricional, é essencial que os lanches sejam atrativos para a criança. “A educação alimentar centrada na criança com diabetes é fundamental, mas o desafio aumenta na fase pré-escolar e escolar, onde a seletividade alimentar é comum. Nessas situações, a educação nutricional deve ser o principal caminho para ajudar a criança a aceitar melhor os alimentos”, observa Ruffo.
Envolver a criança na escolha dos alimentos pode ser uma estratégia eficaz. “Escolha opções que a criança já conhece e gosta. A lancheira deve ser uma extensão da alimentação feita em casa. Isso não só aumenta as chances de aceitação, mas também ajuda a garantir que a criança esteja recebendo os nutrientes necessários para manter o controle da glicose ao longo do dia”, conclui Ruffo.
Monitoramento da glicose e cuidados na escola
A monitorização da glicose precisa ser feita antes e depois da alimentação da criança. Foto: Reprodução/Internet
A Dra. Jellin Zambon, endocrinologista e Gerente Médica Sênior da Divisão de Cuidados para Diabetes da Abbott no Brasil, reforçou a importância do monitoramento contínuo da glicose, especialmente no ambiente escolar.
“Esse monitoramento permite acompanhar as leituras de glicose sem a necessidade de picadas nos dedos, o que empodera as crianças a tomarem decisões mais seguras sobre sua saúde”, explica. Isso é particularmente útil para crianças que ainda não conseguem identificar os sintomas de hipoglicemia ou que têm episódios severos.
Zambon alerta que professores e cuidadores devem estar atentos a sinais de hipoglicemia, como fome, palpitação, palidez, sudorese, tremores, letargia, tontura, dificuldade de concentração e fraqueza. “Crianças menores, em especial, podem não conseguir expressar claramente o que estão sentindo, e é vital que os adultos ao redor estejam preparados para identificar e agir rapidamente nesses casos”, adverte.
Preparar a lancheira ideal para uma criança com diabetes e ainda ter atenção nos níveis da sua glicose pode parecer um desafio, mas com planejamento e criatividade. É possível criar opções nutritivas e saborosas que ajudam a manter o controle da glicose e fazem a alegria dos pequenos na hora do lanche. É importante também conversar com os profissionais da educação da escola do seu filho para uma clareza maior sobre o monitoramento da glicose e também a aplicação de insulina, quando necessário.
Incluir a criança no processo e fazer da lancheira uma extensão das refeições em casa são passos fundamentais para garantir que os lanches sejam bem aceitos e cumpram seu papel nutricional. A monitorização contínua da glicose e a atenção de professores e cuidadores são partes essenciais desse cuidado, garantindo que a criança tenha uma rotina escolar segura e saudável.
