Manter a glicemia sob controle é um desafio diário para quem tem diabetes. Oscilando entre altos e baixos, os níveis de açúcar no sangue exigem monitoramento constante, ajustes na alimentação, uso de insulina ou outros medicamentos e, muitas vezes, a interrupção das atividades diárias para lidar com episódios de hipoglicemia ou hiperglicemia. O tempo que uma pessoa com diabetes gasta nessas recuperações pode ser muito maior do que se imaginava.
Durante uma debate sobre o tema, foi citado que indivíduos com a doença passariam cerca de 500 horas anuais se recuperando de episódios de hipoglicemia e hiperglicemia.
Como se chega ao número real?
De acordo com diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, pacientes com diabetes tipo 1 devem manter a glicemia na faixa ideal (entre 70 e 180 mg/dL) pelo menos 70% do tempo. Isso significa que, diariamente, cerca de 7 horas e 12 minutos são passadas fora dessa meta – seja em hipoglicemia (quando o açúcar no sangue está baixo) ou hiperglicemia (quando está alto).
“Se levarmos em conta apenas um paciente com bom controle glicêmico, que ainda passa aproximadamente 6 horas por dia em estado de hiperglicemia e até 1 hora em hipoglicemia, já chegamos a um número muito superior ao apresentado na mesa redonda”, explica o endocrinologista Dr. Alberto David, que também convive com diabetes tipo 1.
Fazendo as contas:
Tempo diário fora da meta: 7 horas (hipoglicemia + hiperglicemia);
Tempo anual fora da meta: 7 horas x 365 dias = 2.555 horas.
Isso significa que, mesmo com um bom controle, um paciente pode passar mais de 2.500 horas anuais com a glicemia desregulada.
Recuperação leva mais tempo do que se imagina
Para reforçar a diferença entre os números, basta considerar apenas a hipoglicemia. Segundo o Dr. Alberto David, “se um paciente passa cerca de 1 hora por dia em hipoglicemia e o tempo médio de recuperação de um episódio for 15 minutos, então só a hipoglicemia já representaria quase 500 horas anuais”.
O cálculo é simples:
Tempo em hipoglicemia por dia: 1 hora;
Tempo anual em hipoglicemia: 365 horas;
Tempo de recuperação por episódio: 15 minutos;
Tempo total gasto em recuperação: 365 horas + tempo de recuperação (15 minutos).
E isso sem considerar o tempo necessário para recuperar-se de episódios de hiperglicemia.
O que é possível fazer em 500 horas?
Esse tempo, quando direcionado para outras atividades, pode gerar um impacto significativo tanto na vida pessoal quanto profissional. Com 500 horas anuais, é possível aprender um novo idioma até o nível intermediário, concluir cursos de especialização em áreas como marketing digital ou programação, ler cerca de 20 livros, ou até desenvolver habilidades como tocar um instrumento musical. No campo do bem-estar, o tempo pode ser dedicado a atividades físicas regulares, práticas de meditação e mindfulness, ou até ações de voluntariado. Além disso, para quem convive com condições crônicas, investir parte dessas horas em educação em saúde, planejamento alimentar e manejo do estresse pode trazer benefícios duradouros.
Realidade clínica
Se pacientes com bom controle já passam milhares de horas fora da faixa ideal, é razoável concluir que o tempo gasto pela média da população com diabetes seja ainda maior.
“A ideia de que um indivíduo médio com diabetes gasta apenas 500 horas anuais lidando com episódios de descontrole glicêmico é, na melhor das hipóteses, uma estimativa conservadora e, na pior, uma subestimação significativa da realidade clínica”, conclui o especialista.
Outro panorama
Um post em redes sociais da Diabetes Foundation sugere que tempo gasto controlando a glicemia pode ser ainda maior, chegando a 520 horas por ano. Dr. Alberto David, a partir deste novo dado, entrou em contato com outros especialistas para validar a informação e com a fundação internacional, mas não obteve resposta quanto à referência original.
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