Com a saúde dos olhos não se brinca. As pessoas com diabetes conhecem e ouvem essa frase muitas vezes. E nunca é demais alertar: o diabetes é a principal causa de cegueira de pessoas em idade produtiva em todo o mundo, de acordo com a Federação Internacional de Diabetes (IDF).
A retinopatia é o problema mais comum. Uma a cada três pessoa com diabetes tipo 1 desenvolvem essa complicação. No caso das pessoas com diabetes tipo 2 a estatística é ainda mais dura: estima-se que mais da metade das pessoas DM 2 desenvolvam retinopatia diabética em algum momento de suas vidas. A IDF ainda relata que a retinopatia diabética é responsável por 2,6% de todos os casos de cegueira globalmente.
A psicóloga Camilla Correa Fernandes, que perdeu a visão aos 20 anos de idade devido à falta de cuidado com o diabetes. Ela tinha acabado de deixar a casa dos pais para cursar a faculdade de Engenharia Química, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. “Descobri o diabetes aos 9 anos de idade e quando criança era mais fácil de controlar, porque o pai e a mãe ficavam no pé. Daí quando me mudei pra Ribeirão eu morava em república e tinha um transtorno alimentar. Eu deixava de tomar insulina pra emagrecer mais rápido”, lembra ela. Esse transtorno tem nome: Diabulimia e se caracteriza pela preocupação excessiva com o peso corporal. A pessoa reduz ou deixa de tomar a insulina, o que aumenta significativamente o risco de complicações oculares, além de outras consequências graves para a saúde.
Hemoglobina Glicada em 16%
Camilla lembra que sem ajuda da insulina o organismo dela dava sinais importantes. Numa das vezes que fez o exame de hemoglobina glicada, aquele que avalia os níveis médios da glicose sanguínea nem períodos maiores de tempo, o resultado atingiu 16%. Pra se ter uma ideia se considera que a pessoa tem diabetes quando a hemoglobina glicada é maior ou igual a 6,5%. “Eu sou insulino-dependente, mas nesse período eu não tomava nada de insulina, depois de 3 anos fazendo essa loucura acabei perdendo a visão”, admite a psicóloga que hoje se arrepende dessa postura: “Quando eu fazia a hemoglobina glicada dava alta né, meus pais pegavam no meu pé, de longe, ai eu ajustava a dieta, fazia um regime, o exame melhorava e eu fazia tudo de novo”.
Exames e tratamento
Pessoas com diabetes devem ser examinadas rotineiramente e pelo oftalmologista e precisam realizar exames oculares regularmente. O teste inicial deve ser imediatamente após o diagnóstico e os exames de rotina a cada 1 ou 2 anos, mesmo sem sintomas. Se a retinopatia for detectada, pode ser necessário aumentar a frequência dos exames, dependendo da gravidade e o nível de controle dos fatores de risco.
Os exames recomendados incluem a medida da pressão intraocular, dilatação das pupilas para avaliar a retina e exames específicos para detectar problemas oculares diabéticos. O tratamento das complicações oculares do diabetes depende do problema específico. Opções de tratamento podem incluir o uso de medicamentos, procedimentos cirúrgicos, laserterapia e terapia intravítrea. O objetivo é controlar a progressão da condição e preservar a visão.
Outros problemas relacionados à visão:
Catarata: Pessoas com diabetes têm duas a cinco vezes mais probabilidade de desenvolver catarata em comparação com pessoas sem diabetes. Estima-se que a catarata seja responsável por 2,2% dos casos de cegueira relacionada ao diabetes.
Glaucoma: O diabetes aumenta o risco de desenvolver glaucoma. Estima-se que o risco de glaucoma seja duas vezes maior em pessoas com diabetes em comparação com aquelas sem a condição.
Volta por cima
Hoje a psicóloga Camilla Fernandes vive um momento de superação.
A faculdade em Ribeirão Preto ficou trancada após a perda da visão. Ela se mudou para outra cidade do interior paulista: Catanduva. Depois de alguns anos se encontrou na dança e começou outra faculdade, de psicologia. Ano passado passou num concurso público e hoje atua na Prefeitura da cidade.
A relação dela com o diabetes também mudou e hoje segue os hábitos de autocuidado recomendados a todas as pessoas com a doença. O automonitoramento da glicose, o controle adequado do diabetes e a realização de exames oculares regulares essenciais para prevenir e tratar problemas de visão relacionados ao diabetes.