EXCLUSIVO: Ministério da Saúde faz compra “misteriosa” de insulina de origem desconhecida

Saúde Pública

Aquisição de 1,3 milhão de canetas custou mais de 18 milhões de reais; associações de pacientes afirmam que fabricante ainda não é habilitada pela Anvisa para comercializar o medicamento

Tom Bueno e Maurílio Goeldner, da Redação Um Diabético

O possível “apagão” de insulina de ação rápida no SUS ganha um novo capítulo. Depois que o Tribunal de Contas da União revelou desabastecimento do medicamento usado por milhares de pessoas para tratar o diabetes no Brasil, o Ministério da Saúde decidiu comprar as canetas de maneira emergencial de um distribuidor chinês. De acordo com o Portal de Compras do Governo Federal (Comprasnet) a aquisição foi feita sem a realização de licitação.

Consulta realizada no portal de compras do Governo Federal Comprasnet: empresa que intermediou a venda é da China

Ainda segundo o documento a negociação de mais de 1 milhão e trezentas mil canetas de insulina de ação rápida foi negociada pela empresa GlobalX Technology Limited, com sede em Hong Kong, na China. Essa companhia seria uma intermediária entre os governos e o fabricante, ainda não conhecido.

O portal Um Diabético teve acesso com exclusividade a um documento que mostra detalhes da negociação, que teve início no dia 31 de janeiro de 2023 e foi concluída com a assinatura do contrato de compra e venda no dia 27 de abril de 2023.

Foram compradas 1.346,826 canetas de insulina de 3 ml com valor de R$ 13,96 por unidade, resultando em um custo total de R$ 18.801.690,96 ao Ministério da Saúde. 

Alerta

A negociação “misteriosa” acendeu o alerta em sociedades médicas e associações de pacientes com diabetes, que não se sabem a origem da insulina e nem se a molécula usada na fabricação é a mesma – ou compatível – com a insulina de ação rápida distribuída pelo SUS atualmente. 

O Instituto Diabetes Brasil, a Sociedade Brasileira de Diabetes e as associações de pacientes pedem esclarecimentos ao Ministério da Saúde, declarando que a fabricante ainda não está habilitada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. No Brasil, apenas 3 empresas possuem a liberação para comercializar esse tipo de insulina.