O Agosto Dourado é o mês de conscientização sobre a importância da amamentação, uma prática primordial para a saúde dos bebês e das mães. E para as mães que vivem com diabetes, seja tipo 1, tipo 2, ou gestacional, o processo de amamentação pode apresentar desafios.
Para entender melhor como o diabetes influencia a amamentação e como essas mães podem se preparar, nossa equipe de jornalismo conversou com a enfermeira obstetra e consultora internacional de lactação, Cinthia Calsinski, e a endocrinologista e metabologista, Dra. Thais Mussi.
Elas compartilharam suas visões sobre como garantir que a amamentação seja bem-sucedida e saudável, tanto para a mãe quanto para o bebê.
O impacto do diabetes na produção e qualidade do leite materno
Uma das principais preocupações para as mães com diabetes é como a doença pode afetar a produção e a qualidade do leite materno. Cinthia Calsinski explica que mulheres com diabetes, especialmente se não estiver bem controlado, podem ter um atraso na lactogênese, o início da produção de leite. Esse atraso ocorre devido a desequilíbrios hormonais que interferem na prolactina e na insulina, hormônios cruciais para a produção de leite.
Dra. Thais Mussi complementa ao dizer que a doença pode retardar a transição do colostro para o leite maduro, conhecido como lactogênese II, o que pode reduzir temporariamente a produção de leite.
Ela também ressalta que, embora a composição do leite materno possa ser ligeiramente alterada, apresentando níveis mais altos de glicose, isso não significa que o leite seja de menor qualidade.
“É importante monitorar esses níveis para garantir que o bebê receba uma nutrição equilibrada”, afirma.
Benefícios da amamentação para mães com diabetes
A amamentação não é apenas segura para mães com diabetes, mas também traz uma série de benefícios específicos. Cinthia observa que a amamentação ajuda a melhorar a sensibilidade à insulina, facilitando o controle dos níveis de glicose no sangue.
Esse efeito é particularmente relevante para mães com diabetes tipo 2, que podem enfrentar desafios relacionados ao controle de peso. “Amamentar também contribui para a perda de peso pós-parto, um fator benéfico para o controle do diabetes tipo 2”, ela acrescenta.
Dra. Thais Mussi destaca que para mães que tiveram diabetes gestacional, a amamentação pode reduzir o risco de desenvolver diabetes tipo 2 no futuro.
Além disso, ela aponta que a amamentação também pode ajudar a reduzir complicações cardiovasculares, que são mais prevalentes em mulheres com diabetes.
“Os benefícios físicos são inegáveis, mas também é importante lembrar do impacto emocional positivo. A amamentação fortalece o vínculo entre mãe e filho, proporcionando um momento de proximidade vital para o bem-estar psicológico da mãe”, afirma a endocrinologista.
Quais os riscos para bebês de mães com diabetes?
Bebês de mães com a doença têm maior risco de hipoglicemia nas primeiras horas após o nascimento, explica Cinthia.
A amamentação precoce e frequente é fundamental para estabilizar os níveis de glicose do bebê. Dra. Thais complementa, afirmando que a hipoglicemia neonatal ocorre devido à alta exposição à glicose durante a gestação, mas a amamentação pode ajudar a regular melhor esses níveis.
Outro risco é a icterícia neonatal, que, segundo Dra. Thais, pode ser mais prevalente em bebês de mães com diabetes. Embora geralmente seja leve e temporária, a icterícia precisa ser monitorada cuidadosamente pelos profissionais de saúde.
Além disso, esses bebês têm maior probabilidade de nascerem grandes, o que pode ou não levar a desafios na amamentação. Esses recém-nascidos também podem ter um risco de desenvolver obesidade e diabetes tipo 2 na vida adulta, mas a amamentação pode desempenhar um papel protetor, ajudando a abaixar esses riscos.
Ajustes na dieta e monitoramento da glicose
Para mães diabéticas, manter uma dieta equilibrada e monitorar os níveis de glicose no sangue com regularidade são fundamentais durante a amamentação.
“É importante seguir uma dieta rica em nutrientes, com um equilíbrio entre carboidratos, proteínas e gorduras”, recomenda Cinthia. Ela também sugere que as mães façam pequenas refeições frequentes para ajudar a manter os níveis de glicose estáveis.
A hidratação é outro aspecto necessário, como ressalta Cinthia: “A produção de leite aumenta a necessidade de líquidos, então é primordial que as mães se mantenham bem hidratadas”.
Dra. Thais reforça a importância do monitoramento frequente da glicose, explicando que a lactação pode causar variações nos níveis de glicose, o que pode exigir ajustes na insulina ou na medicação antidiabética. Ela também menciona que certos medicamentos, como as sulfonilureias e inibidores da SGLT2, podem ser evitados durante a amamentação devido aos riscos potenciais para o bebê.
Desafios na amamentação
A jornada da amamentação para mães com diabetes não é isenta de desafios. Um dos maiores deles é o controle glicêmico, que pode ser complicado devido às flutuações hormonais e ao aumento da demanda energética.
O risco de hipoglicemia materna é uma preocupação constante, especialmente após as mamadas. Esse risco requer um planejamento cuidadoso de refeições e lanches para manter a glicemia estável.
Cinthia também destaca que “o cansaço e o estresse são fatores significativos, já que o gerenciamento do diabetes junto com os cuidados com o recém-nascido pode ser desgastante tanto física quanto emocionalmente”. Ela recomenda que as mães busquem apoio de uma consultora de lactação caso enfrentem dificuldades na produção de leite ou no manejo do diabetes.
Para mães que estão se preparando para amamentar
Uma dica principal é ter um bom controle dos seus níveis de glicose no sangue antes e durante a amamentação. Isso é essencial para a sua saúde e para a do bebê”, recomenda Cinthia. Ela também sugere que as mães planejem suas refeições e lanches para garantir que estejam recebendo calorias e nutrientes suficientes.
Dra. Thais aconselha que as mães discutam com seus médicos sobre os ajustes necessários na medicação e no monitoramento da glicose durante a amamentação. Estar atenta aos sinais de hipoglicemia e manter lanches saudáveis por perto é essencial para evitar quedas nos níveis de glicose.
Acima de tudo, Dra. Thais enfatiza a importância de manter a calma e confiar no próprio corpo: “Você é plenamente capaz de nutrir seu bebê da forma que ele precisa. Com os cuidados certos, a amamentação pode ser uma experiência positiva e enriquecedora para você e seu filho”.
Durante o Agosto Dourado, é essencial lembrar que a amamentação é um ato de amor e cuidado que, embora possa exigir atenção especial no caso de mães diabéticas, é possível e altamente benéfico. Com as orientações certas e o apoio adequado, essas mães podem superar os desafios e garantir que seus bebês recebam o melhor começo de vida.